Depois da queda do ditador Omar al-Bashir em abril, um novo governo de transição, liderado pelo primeiro-ministro Abdalla Hamdok, foi formado
Começa uma nova era política num dos países mais conturbados do conturbadíssimo continente africano, o Sudão. Nesta quarta-feira, 28, o novo primeiro-ministro, Abdalla Hamdok, empossado dia 21 de agosto, anunciará os nomes dos membros do novo gabinete de governo do país. O Conselho Soberano do Sudão, que tomou posse junto com o premier, deverá supervisionar a nova administração e a formação de um Parlamento de transição — que deverá ser 40% feminino.
A renovação política acontece depois que uma onda de protestos conseguiu pôr fim, em abril, ao regime do ditador Omar al-Bashir, que estava no poder no Sudão desde 1989. Depois, protestos pró-democracia invadiram o país. Foram necessários meses de negociações entre as Forças Armadas e os líderes dos protestos para chegar a um acordo para fazer a transição política para um governo civil.
O primeiro-ministro Hamdok, economista, doutor pela Universidade de Manchester, vice-secretário-executivo da Comissão Econômica das Nações Unidas para a África entre 2011 e 2018, foi um candidato de consenso da oposição para assumir como primeiro-ministro. Ele é quem vai liderar o governo de transição que vai cuidar do Sudão pelos próximos três anos, substituindo uma junta exclusivamente militar. Em entrevista após tomar posse, Hamdok disse que o programa deste período de transição será o slogan da revolução: “paz, liberdade e justiça”.
Internacionalmente, a posse do primeiro-ministro e a formação de um governo com civis é vista com bons olhos. Com isso, o Sudão espera que os Estados Unidos retirem as sanções econômicas impostas ao país, que está na lista norte-americana de “Estados que apoiam o terrorismo”. O novo governo tem a difícil missão de recuperar a economia fragilizada e tentar restaurar a paz em regiões marcadas por vários conflitos, em especial Darfur, no oeste do país, que vive em estado de guerra civil desde 2003.
O Conselho Soberano também tentará reverter a suspensão do Sudão da União Africana, que aconteceu em junho, após repressão violenta por parte do governo a um protesto pacífico em Cartum. Segundo um comitê de médicos ligado ao protesto, 127 pessoas morreram nesse ato de 3 de junho.
A depender das primeiras atitudes do novo governo, que terá a primeira reunião ministerial com o Conselho Soberano no dia 1º de setembro, esse pode ser o início de um novo caminho político para o Sudão internamente e na comunidade internacional.