Justin Stebbing, professor de ciências biomédicas na Anglia Ruskin University, no Reino Unido, escreveu este artigo publicado na plataforma The Conversation Brasil.
O câncer de apêndice era considerado uma doença muito rara, geralmente diagnosticada em pessoas mais idosas. No entanto, uma nova tendência preocupante mostra que essa condição vem aumentando entre indivíduos na faixa dos 30 e 40 anos, e até entre os mais jovens.
O apêndice, uma pequena estrutura ligada ao intestino grosso, é conhecido principalmente por causar apendicite, uma inflamação dolorosa que requer cirurgia de emergência. Menos comum é o desenvolvimento de câncer nessa região, que normalmente não apresenta sinais claros.
Um estudo recente publicado no Annals of Internal Medicine revelou que os casos de câncer de apêndice têm crescido significativamente entre pessoas nascidas após os anos 1970, com a incidência aumentando de três a quatro vezes nas gerações mais jovens, em comparação com as nascidas na década de 1940.
Embora o número total de casos seja pequeno, essa elevação é notável, especialmente porque cerca de um em cada três diagnósticos ocorre em adultos com menos de 50 anos, um índice maior que em outros cânceres gastrointestinais.
Os motivos por trás desse aumento não são claros. Um dos principais suspeitos é a mudança no estilo de vida e no ambiente nas últimas décadas. A obesidade tem crescido desde os anos 1970, sendo um fator de risco para vários tipos de câncer digestivos.
Além disso, a alimentação mudou bastante, com maior consumo de alimentos processados, bebidas açucaradas e carnes vermelhas ou processadas, que estão associadas ao aumento do risco de câncer intestinal. A redução da atividade física e o aumento do tempo sedentário também são preocupantes.
Outra hipótese é a exposição a novos fatores ambientais, como a industrialização dos alimentos, o uso de plásticos e produtos químicos, e alterações na qualidade da água, embora essas evidências ainda estejam em fase inicial de pesquisa.
Dificuldades no diagnóstico
O câncer de apêndice é difícil de ser identificado precocemente. Diferente do câncer de cólon, que pode ser detectado por colonoscopias, o câncer de apêndice muitas vezes não apresenta sintomas claros e pode ser descoberto apenas após cirurgia para suspeita de apendicite.
Os sintomas, quando existem, são inespecíficos, como dor abdominal leve, inchaço ou alterações nos hábitos intestinais, comuns a várias condições benignas. Por isso, o diagnóstico precoce é raro e muitas vezes tardio.
Não há um exame de rotina para rastrear esse tipo de câncer devido à sua raridade e à dificuldade de visualização do apêndice em exames comuns.
Prevenção e atenção
É fundamental que pacientes e profissionais de saúde estejam atentos a sintomas abdominais persistentes, especialmente em pessoas jovens. Uma investigação rápida pode ajudar no diagnóstico e tratamento.
O aumento do câncer de apêndice entre os jovens reflete uma tendência geral observada em outros cânceres gastrointestinais, sugerindo múltiplos fatores de risco envolvendo genética, estilo de vida e ambiente.
O uso frequente de antibióticos, tanto na saúde quanto na agricultura, pode também influenciar o risco, alterando a microbiota intestinal. Contudo, mais estudos são necessários para entender esses impactos.
Para reduzir os riscos, recomenda-se manter um peso saudável, uma alimentação equilibrada e rica em alimentos naturais, além de praticar exercícios regularmente. Evitar o tabaco e consumir álcool com moderação são também orientações importantes.
Pesquisadores continuam investigando as causas desse aumento para melhorar a prevenção, diagnóstico e tratamentos dessa doença rara. Enquanto isso, a conscientização é essencial para que os sinais sejam reconhecidos e tratados rapidamente, aumentando as chances de sucesso no tratamento.
Essa nova realidade alerta que mudanças em nosso ambiente e hábitos podem fazer crescer doenças antes incomuns, reforçando a importância de cuidados contínuos com a saúde.