Documento, obtido pelo GLOBO, integra ação dos embaixadores; ex-ministro afirma que acusações de ex-presidente em live não se sustentavam em informações da corporação
O ex-ministro da Justiça Anderson Torres afirmou em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que, apesar de ter participado de uma live em que o então presidente Jair Bolsonaro fez acusações sobre fraudes nas eleições, nunca teve acesso a qualquer informação da Polícia Federal sobre a manipulação de resultados eleitorais.
O depoimento, obtido pelo GLOBO, foi prestado em caráter sigiloso no âmbito da ação que investiga os ataques às urnas eletrônicas feitos por Bolsonaro em reunião com embaixadores em julho de 2022.
Torres passou a maior parte do depoimento respondendo sobre sua participação na live produzida pela Presidência no Palácio da Alvorada em 2021. Nela, Bolsonaro também fez diversas acusações infundadas de fraudes às urnas. Na oitiva, Torres respondeu que foi convidado a participar da transmissão em razão do trabalho da Polícia Federal sobre as eleições. Contudo, durante todo o depoimento, negou que tivesse acesso a qualquer prova de irregularidades no sistema eleitoral.
Torres disse que apenas leu, nos minutos finais da transmissão, um relatório produzido pela Polícia Federal. De acordo com o ex-ministro, o documento apenas sugeria a possibilidade de melhorias no sistema eleitoral brasileiro.
Durante o depoimento, o juiz Marco Antônio Martim Vargas, que comandou a oitiva, questionou Torres sobre diversas acusações feitas por Bolsonaro e pelo coronel Eduardo Gomes durante a live, mas Torres negou que tivesse qualquer informação ou relatório da PF que confirmasse as afirmações
— A única coisa que eu tinha em mãos eram esses trechos desses relatórios. E tudo que foi falado foi com base nesses trechos desses relatórios. Nada além disso, não tinha outro documento, não tinha análise de nada. Eram esses relatórios públicos, que são encaminhados ao Tribunal Superior Eleitoral nesse chamamento público — afirmou Torres.
Questionado se ele teria levado ao presidente a informação de que alguma investigação da PF teria concluído pela existência de fraude, Torres mais uma vez negou.
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— A Polícia Federal nunca apresentou, pelo menos para mim, o resultado de alguma investigação que concluísse, que pudesse garantir que existia fraude na eleição — afirmou, acrescentando que, em sua opinião, não houve manipulação. — O resultado da eleição foi o que as urnas trouxeram. O processo democrático foi cumprido. O vencedor tomou posse e está exercendo seu mandato livremente.
‘Processo depressivo’
Torres disse ainda acreditar que Bolsonaro entrou em um “processo depressivo” após a vitória de Lula (PT) nas eleições de 2022. Durante a oitiva, ele foi perguntado se manteve contato com o então presidente e tratou de questionamentos a respeito da lisura do resultado das eleições após o pleito. O ex-ministro, entretanto, afirmou que se reuniu poucas vezes com ele.
— Após a eleição de 2022, o presidente Bolsonaro entrou num processo introspectivo, acho até depressivo. Me desculpe falar dessa forma. Ele desenvolveu uma doença, erisipela, abriu uma ferida grande na perna dele. É até ruim falar das intimidades do presidente. Ele ficou bastante isolado fazendo esse tratamento — afirmou Torres.
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Segundo ele, em razão disso, nas poucas vezes em que foi ao Palácio da Alvorada, a visita foi estritamente de caráter pessoal. Torres tratou da situação ao argumentar que não comentou com Bolsonaro sobre a minuta golpista que tinha recebido e levado para sua casa. O documento foi encontrado pela PF durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão no começo deste ano
Questionado por uma advogada do PDT, autor da ação, se teria conversado com Bolsonaro sobre a possibilidade de uma intervenção, Torres voltou a repetir o argumento.
— Eu acho que após a eleição, o presidente passou por um período de enfermidade e por um período de depressão. Eu acho que ele ficou chateado com o resultado da eleição, mas jamais tocou nesse tipo de assunto — disse Torres