Entregas de aeronaves aumentaram nos últimos meses de 2020 e perspectivas são positivas para maior entrada de aviões de pequeno porte na aviação civil
A maior parte do ano de 2020 não foi nada boa para a Embraer. Resultados financeiros ruins no segundo e terceiro trimestre causados pela interrupção de encomendas e a desistência da Boeing em comprar a parte comercial da empresa marcaram o ano da empresa sediada em São José dos Campos, no interior de São Paulo.
Apesar de a empresa ter entregue menos aeronaves no ano passado do que em 2019, o ritmo acelerou no fim do ano e isso deve refletir nos dados do último trimestre, que a empresa divulga na manhã desta sexta-feira, antes da abertura do mercado financeiro.
Apenas neste último trimestre, a Embraer entregou mais aeronaves do que o que foi entregue em todo o restante do ano.
De janeiro a setembro, foram 59 e de outubro a dezembro foram 71 aeronaves. O número é 35% menor do que foi entregue em 2019.
Com isso, o banco BTG Pactual, do mesmo grupo que controla a EXAME, projeta um EBITDA de – 89 milhões de dólares em 2020, um resultado líquido de – 389 milhões de dólares e uma receita de 3,9 bilhões. Em 2019, a receita tinha passado dos 5 bilhões.
A pergunta que fica é se a melhora do quarto trimestre indica o início de uma recuperação verdadeira para a Embraer. Os números do EBITDA devem voltar a ser positivos em 2022, segundo o mesmo relatório do banco BTG Pactual, mas por trás disso estão alguns pontos-chave no cenário do mercado de aviação comercial.
A empresa é uma das maiores fabricantes de aviões do mundo, ficando atrás apenas da Boeing e da Airbus, liderando o mercado de jatos comerciais de pequeno e médio porte.
O que é preciso levar em conta é que a Embraer que sairá da pandemia nos próximos meses é totalmente diferente da empresa que entrou.
A quase fusão com a Boeing
Em março de 2020, a Embraer buscava escala, enquanto a Boeing buscava entrar no setor de pequenos e médios aviões. Com isso, fecharam um acordo de fusão.
Mesmo que de forma indireta, a pandemia atrapalhou os planos da Boeing, que já passava percalços com a novela do seu problemático 737 MAX.
A mega empresa americana teria que arcar com um alto valor para assumir o controle da parte comercial dos jatos da empresa, que hoje tem controle totalmente pulverizado, apesar de golden shares com a União.
Em abril de 2020, a Boeing abriu mão de comprar a parte comercial e a Embraer precisou se reinventar, gastando mais de 700 milhões de reais na reintegração administrativa e operacional. Tudo piorou com as baixas nas encomendas das companhias aéreas e deu no que deu: um ano no vermelho.
O analista Rodrigo Wainberg, analista da Suno Research, destaca alguns programas de cortes de custos implementados em meio aos processos de reintegração da área operacional.
“Em termos práticos a companhia mirou um downsizing de 30%. As demissões voluntárias e não voluntárias ultrapassam a marca de 2,5 mil. As dispensas trouxeram gastos não-recorrentes que impactaram bastante o 3T20 e ainda devem ter algum impacto no resultado do último trimestre do ano. Os pedidos adiados devem ser entregues em 2021 e 2022, aumentando consideravelmente a receita em relação a 2020. O ano de 2021 promete ser mais um ano desafiador, mas as margens já devem vir melhores, fruto das ações da administração”, observa.
Na época, a Boeing alegou descumprimento de partes do contrato pela Embraer, que nega. Como teve prejuízos, a empresa pede ressarcimento de decisão por árbitros nos Estados Unidos.
Futuro positivo
Doze meses depois, o cenário que se desenha é muito mais otimista. As principais razões são: há uma tendência de as companhias áreas comprarem aviões menores, a Embraer tem posição de líder neste mercado e há expectativas do crescimento da aviação regional antes da volta dos circuitos internacionais no pós-covid.