Pesquisadores da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, desenvolveram uma inovação importante para combater dois grandes desafios ambientais: a poluição por plástico e o uso de combustíveis fósseis na produção de medicamentos.
Em um estudo divulgado em 23 de junho na revista Nature Chemistry, foi demonstrado que a bactéria Escherichia coli, após ter seu material genético alterado, consegue converter resíduos plásticos PET (tereftalato de polietileno) em paracetamol, um dos analgésicos mais populares globalmente.
Hoje, o paracetamol é fabricado principalmente a partir de recursos fósseis. Ao substituir estes por resíduos plásticos, o método criado pelos cientistas sugere uma alternativa mais ecológica para a produção de remédios.
Como ocorre a transformação?
O processo tem início pela degradação química das garrafas PET, um material comum em embalagens de bebidas e alimentos. As moléculas resultantes são tratadas por uma versão modificada da E. coli, que usa fosfato para catalisar a transformação em um composto orgânico contendo nitrogênio. Na etapa final, esse composto é convertido no princípio ativo do paracetamol.
Um dos pontos fortes do processo é a rapidez: tudo é realizado em até 24 horas em um laboratório compacto, operando em temperatura ambiente, sem necessidade de aquecimento ou resfriamento intenso. A eficiência é alta, com taxa de conversão de 92%.
Essa técnica faz uso do rearranjo de Lossen, uma reação química descoberta em 1872, adaptada para funcionar dentro de células vivas, tornando o procedimento biocompatível.
Possibilidades futuras
Até o momento, os testes foram realizados apenas com plásticos PET, porém os pesquisadores acreditam que a mesma abordagem possa ser aplicada a outros tipos de plásticos e microrganismos. Ainda são necessários estudos para confirmar a viabilidade em escala industrial e comercial, mas os resultados iniciais são bastante promissores.
Stephen Wallace, líder do estudo, declarou: “O plástico PET não é apenas um resíduo ou um material para ser reciclado em plástico novamente, ele pode ser transformado por microrganismos em produtos valiosos, inclusive aqueles que podem tratar doenças.”
O PET é um dos maiores responsáveis pela poluição plástica mundial, com mais de 350 milhões de toneladas geradas anualmente. Essa pesquisa oferece uma alternativa para o destino desse material, com potencial para diminuir o lixo e tornar a fabricação farmacêutica mais sustentável.
Para os autores, a combinação da biologia com a química sintética pode ser fundamental para desenvolver soluções sustentáveis em diversos setores industriais.