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quinta-feira, 19/06/2025




Australiano é deportado dos EUA após ativismo pró-Palestina

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Manoella Smith
São Paulo, SP (FolhaPress)

O escritor australiano Alistair Kitchen foi impedido de entrar nos Estados Unidos e enviado de volta ao chegar no aeroporto de Los Angeles no último fim de semana. Ele ficou retido por 12 horas em uma sala e foi questionado sobre suas opiniões acerca do conflito entre Israel e Hamas.

Em conversa com a Folha de S.Paulo, Kitchen afirmou que sua deportação teve motivos políticos. Os agentes de imigração teriam citado artigos escritos por ele, que criticavam o governo de Donald Trump e apoiavam manifestações em favor da Palestina.

O australiano estava a caminho de Nova York para visitar amigos. Ele morou na cidade por seis anos antes de retornar à Austrália no ano passado e realizou um mestrado na Universidade Columbia.

Segundo Kitchen, ele foi chamado pelo alto-falante, retirado da fila da imigração e levado para uma sala restrita. “Eles pegaram meu telefone e pediram a senha. Caso eu não fornecesse, seria deportado na hora. Eu acabei cedendo”, contou. Ele lamenta a decisão agora, revelando que estava cansado após um voo de 15 horas e não acreditava estar fazendo nada errado.

O interrogatório começou com um agente dizendo: “Nós sabemos o motivo da sua presença aqui”, e mencionou as publicações de Kitchen sobre os protestos estudantis pró-Palestina, que ocorrera no campus universitário no ano anterior.

Esses protestos foram classificados por Trump durante sua campanha como antissemitas, e, já no cargo, o ex-presidente justificou medidas contra universidades de elite alegando que elas não reprimiram adequadamente as manifestações.

Kitchen revelou estar surpreso, pois havia apagado suas postagens políticas das redes sociais e de seu blog dois dias antes da viagem. Ele sabia que o governo Trump monitorava opositores, mas não esperava ser um alvo direto.

Em um dos seus textos, Kitchen condenou a prisão de Mahmoud Khalil, ex-aluno de Columbia e participante dos protestos, que está detido desde março com pedido de deportação por parte do governo Trump.

“O agente demonstrava conhecer minhas postagens. Fiquei claro que eu estava sendo observado há semanas”, disse Kitchen. O início do interrogatório, cerca de 40 minutos, foi focado no conflito do Oriente Médio. “Foi estranho e até um pouco cômico. Ele perguntou como eu resolveria a situação, como se eu, um australiano sem experiência na região, pudesse dar uma resposta.” Apesar do tom ameaçador, o oficial foi educado, e Kitchen tentou manter a calma, apesar do medo.

O agente afirmou também ter encontrado indícios de uso de drogas no celular de Kitchen e acusou-o de ter mentido na declaração do Sistema Eletrônico de Autorização de Viagem (ESTA), onde ele havia respondido que não havia consumido substâncias ilícitas.

Citados apenas para cidadãos de países isentos de visto, os ESTAs são requeridos online antes da entrada nos EUA. Exausto e sob pressão, Kitchen admitiu ter usado drogas no passado, inclusive maconha legalmente adquirida em Nova York e outras substâncias em outros países.

“Essa confissão foi suficiente para o agente. Acredito que ele já planejava a deportação e isso serviu como justificativa.” Kitchen se pergunta como e por que ele foi um alvo, já que há muitos jornalistas e escritores com vozes mais influentes sobre Israel e Gaza.

Ele suspeita que o governo americano esteja realizando checagens de antecedentes dos solicitantes do ESTA, cruzando informações com redes sociais. Outra hipótese é que tenha sido denunciado por uma organização americana pró-Israel chamada Betar US, que, segundo reportagens do The Guardian e CNN, envia relatórios ao governo Trump com dados de manifestantes pró-Palestina para promover deportações.

Kitchen acredita que seu nome esteja incluído nessa lista.




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