Queda de faturamento, falta de capital de giro e endividamento são as principais questões que afetam os empresários
Inflação pressionada, juro alto por tempo prolongado e inadimplência do consumidor nas alturas formam um combo desalentador para a economia brasileira que pode decepcionar, ainda mais, sem uma correção de rota. O alerta é da pesquisa exclusiva realizada pela Corporate Consulting, em março, junto a 230 companhias com faturamento entre R$ 60 milhões e R$ 400 milhões e que empregam 103 mil colaboradores.
Especializada em turnaround e reestruturação de empresas, com mais de 500 operações no portfólio de gestão de crise, a Corporate Consulting revela um cenário preocupante. Para 52% dos pesquisados, o faturamento caiu à metade comparativamente a 2019. O endividamento aumentou para 37% e, mesmo assim, a necessidade de capital para reforço de caixa e suporte aos negócios é realidade para 84% dos empresários.
De acordo com Luis Alberto de Paiva, sócio e CEO da Corporate Consulting, margens insuficientes para manter a atividade, passivos que comprometem o capital de giro, estoques em queda, oferta de componentes com qualidade inferior ao desejável e impossibilidade de negociação – e extensão de prazos – nas condições de oferta de produtos são algumas das preocupações apontadas pelos empresários.
Ele ainda aponta outros focos de atenção das empresas pesquisadas: queda na renda dos consumidores, aumento de salários e preços de insumos e impossibilidade de arcar com aluguéis, sobretudo, em shopping centers.
De fato, a renda disponível das famílias — motor do consumo que alavanca a produção de bens e serviços — encolheu quase 5% entre dezembro de 2020 e dezembro de 2021, segundo o Banco Central (BC), que considera em seus cálculos rendimentos e transferências de governo. Levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revela que, em março, 77,5% das famílias estavam endividadas, ante 67,3% em março do ano passado.
A Corporate Consulting afirma que — ante o cenário apresentado pelos entrevistados e sem os avanços necessários — as companhias tendem a buscar auxílio em programas de proteção judicial ou consultorias especializadas na gestão de crises, suspender o pagamento de impostos, reduzir o quadro de funcionários ou mesmo cortar salários e contribuições, além de deixar de pagar bancos e credores.
Contudo, Paiva diz que apesar das perspectivas pouco favoráveis, “os empresários alimentam expectativas com a retomada do crescimento econômico sustentado que eleve a renda pessoal disponível ao patamar de 2019, um cenário político sem rupturas e redução da carga tributária”.