O ‘mas’ persegue a economia brasileira, que dá sinais irregulares de melhora.
A economia brasileira vem sendo perseguida por uma conjunção. A adversativa ‘mas’ tem acompanhado grande parte das manchetes.
Mas (olha ela aí de novo) a culpa não é dela: é dos fatos mesmo.
Senão, vejamos: depois de seis anos com taxas acima de dois dígitos, o desemprego no Brasil caiu abaixo disso em maio – e segue recuando desde então. Na sexta-feira, o IBGE divulgou a taxa de desemprego de agosto, de 8,9%. A menor desde 2015.
Acontece que, do início da pandemia pra cá, o desemprego caiu – só que o rendimento do trabalhador também. Os dados do IBGE mostram que o rendimento médio habitual, que chegou a R$ 3 mil naquele ano, é hoje de R$ 2.713.
Junto com a remuneração, a qualidade do emprego também diminuiu: no trimestre encerrado em agosto, o número de trabalhadores sem carteira assinada bateu recorde: 13,16 milhões de pessoas. Outras 4,37 milhões eram empregados domésticos, também sem carteira.
São quase 20 milhões de brasileiros sem direitos trabalhistas – somados aos trabalhadores por conta própria sem CNPJ, são quase 40 milhões de trabalhadores na informalidade. Há entre eles quem prefere trabalhar dessa forma, muitos por questão tributária. Há também, no entanto, ambulantes, motoristas de aplicativos, entregadores, domésticos sem carteira, gente que não tem direito a férias, 13º, nem seguro-desemprego.
O ‘mas’ também assombra os dados de inflação: o IPCA-15 vem negativo há três meses – mas, tirando a influência da gasolina, a direção se inverte. E os alimentos ainda acumulam forte alta em 12 meses.