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sexta-feira, 22/11/2024
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Amazônia é foco de interesse e de atuação da política externa dos EUA, afirma analista

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Embaixada e consulados dos Estados Unidos no Brasil criaram curso para potencializar lideranças indígenas na Amazônia. Para especialista ouvido pela Sputnik, apesar de não haver ameaças graves ao domínio brasileiro no momento, região desperta interesse do ponto de vista econômico e geoestratégico.

Debates sobre a soberania brasileira na Amazônia têm mobilizado o país nos últimos anos. Recentemente, um programa lançado pelos Estados Unidos para lideranças indígenas da região chamou novamente a atenção para o tema.
O projeto, criado pela Embaixada e por consulados norte-americanos no Brasil, tem como objetivo ensinar o idioma inglês a 140 indígenas, de 18 a 35 anos, por um curso on-line entre setembro deste ano e junho de 2023.
De acordo com a organização, o “Access Amazon” tem o objetivo de levar “valor para suas respectivas carreiras e potencial de liderança com foco em causas ambientais”. O curso foi desenvolvido pelo Escritório Regional de Ensino de Língua Inglesa (RELO, na sigla em inglês).
As preocupações ambientais são suficientes para explicar o interesse dos EUA na Amazônia? E a aproximação de órgãos estrangeiros sobre a população local não coloca em xeque de alguma forma a soberania brasileira?
O professor de relações internacionais Christopher Mendonça, do Ibmec de Belo Horizonte, avalia que “a Amazônia é, sem dúvidas, um foco de interesse e de atuação da política externa dos americanos”.
Segundo ele, a posição de liderança internacional faz os EUA buscarem se envolver em questões dos mais diversos âmbitos no mundo.

“Não há apenas interesses ambientais nesta área: a Amazônia tem riquezas importantes e uma biodiversidade que poucos países dispõem. Do ponto de vista econômico e até geoestratégico ter influência sobre a região amazônica é importante para as principais potências mundiais”, analisou Mendonça, em entrevista à Sputnik Brasil.

Para o assessor político da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Toya Manchineri, o projeto contribui para a “emancipação política” indígena.
Ele explica que, uma vez capacitados com o novo idioma, as lideranças “poderão conversar com parentes e parceiros que falam inglês, colocando seus objetivos e pensamentos próprios” sobre temas ambientais, de direitos humanos e desenvolvimento da região.
Segundo Manchineri, com o domínio da língua inglesa, as lideranças serão capazes de expressar não apenas ideias, mas “emoções nos diversos assuntos”, o que, por meio de tradução, “não é possível fazer”.

“Falta ao Estado brasileiro reconhecer a importância da cultura indígena e que existem cerca de 180 línguas faladas pelos povos indígenas na Amazônia brasileira”. O Brasil precisa valorizar as populações nativas”, ressaltou.

‘Não há ameaças graves ao domínio brasileiro até o momento’

O professor Christopher Mendonça diz que o envolvimento de organizações internacionais com as populações amazônicas “não são por si uma ameaça à soberania nacional”. O especialista afirma que, atualmente, as relações internacionais “não estão restritas às fronteiras dos países”.
“A questão da soberania nacional sempre foi e mantém-se como uma preocupação importante de toda a comunidade internacional. A própria ONU [Organização das Nações Unidas], criada nos anos 1940 para institucionalizar a paz, leva em consideração a não intervenção dos países em território alheio. Não há, até o momento, ameaças graves ao domínio brasileiro sob sua porção da região amazônica, que é compartilhada com outros países da região”, disse Mendonça.
Indígenas durante uma reunião de caciques em Brasília, em 2013. - Sputnik Brasil, 1920, 26.07.2022
Indígenas durante uma reunião de caciques em Brasília, em 2013.
O professor do Ibmec aponta que, nos últimos anos, houve um arrefecimento das ações da Fundação Nacional do Índio (Funai) e de outros órgãos do governo federal, que “precisam ser retomadas, para que as garantias constitucionais sejam garantidas aos povos amazônicos”.
Apesar disso, o especialista afirma que, após a Constituição Federal de 1988, o Estado brasileiro passou a ter um olhar atento a pautas indígenas e trabalha, por meio da Funai, com questões ligadas aos povos nativos, tratando, por exemplo, das demarcações de terras.
“Ações importantes do Estado brasileiro são mantidas na tentativa de atender às necessidades e direitos dos povos que lá habitam”, indicou.
Porém, segundo Mendonça, devido à grande extensão da Amazônia, “ainda há dificuldades na presença do Estado em muitas localidades”. Ele lembra que o Brasil é um país com um dos maiores territórios do mundo e tem fronteiras com quase todos as nações da América do Sul.

“Essa condição geopolítica nos traz responsabilidades também muito grandes. As Forças Armadas e a Polícia Federal vêm investindo na presença estatal brasileira em todo o território nacional mas ainda há muito o que se fazer, sobretudo no que se refere a tecnologias de vigilância de fronteiras. Drones, imagens espaciais, câmeras de monitoramento são importantes ferramentas que precisam ser exploradas para que o país tenha maior presença em áreas da Amazônia das quais não se tem tanto controle”, afirmou.

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