MARIANNA HOLANDA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) acreditam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está se beneficiando politicamente com o avanço das negociações com o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Eles esperam que determinadas taxas aplicadas a produtos brasileiros, como o café, sejam reduzidas.
Mesmo que a redução das tarifas não ocorra imediatamente, membros do governo brasileiro consideram que o encontro presencial entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, na quinta-feira (16), marcou o início de uma negociação séria para reverter essas sobretaxas.
Este foi o primeiro encontro entre os chefes da diplomacia desde que os presidentes Donald Trump e Lula começaram os contatos no mês passado.
O andamento das conversas deve trazer resultados positivos para o governo do PT, que está recebendo notícias e resultados favoráveis em pesquisas recentemente. A expectativa, inclusive na oposição, é que as negociações avancem até o fim do ano.
Este cenário aumenta a pressão de setores empresariais ao redor do ex-presidente e de líderes de partidos do centrão e da direita para que o anúncio de um possível sucessor de Bolsonaro ocorra ainda este ano.
Como o ex-presidente está inelegível, tendo sido condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a 27 anos e três meses de prisão por liderar uma trama golpista em 2022, e está em prisão domiciliar desde 4 de agosto, este processo é delicado.
Empresários que têm contato com esses líderes partidários dizem que, sem uma união da direita em torno de um nome competitivo nas pesquisas, será difícil superar a preferência dos eleitores por Lula.
Para esses empresários, o nome com maior potencial é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que, no entanto, nega interesse em concorrer à Presidência.
Aliados de Bolsonaro têm tentado conter as pressões para que ele anuncie logo um sucessor, argumentando que os empresários não compreendem o momento político e que não há pressa para essa decisão.
Primeiro, porque isso pode alimentar sentimentos de abandono e oportunismo dentro do grupo, gerando reações nas redes sociais.
Segundo, porque o ex-presidente ainda possui recursos pendentes no STF e não tomará decisões enquanto seu destino no Judiciário e no Congresso não estiver definido, onde seus aliados tentam aprovar uma anistia.
O projeto de lei que poderia livrar Bolsonaro e outros condenados dos ataques golpistas de 8 de janeiro enfrenta resistência, sendo mais provável a aprovação de um texto que reduza as penas, com apoio da liderança do Congresso.
Além disso, aliados informam que Bolsonaro está com a saúde frágil e apresenta crises frequentes de soluço. Visitas autorizadas por Alexandre de Moraes, do STF, afirmam que não há clima para discutir o futuro político do ex-presidente, respeitando sua situação difícil. Os relatos são de um homem abatido e inconformado com sua prisão.
No entanto, Bolsonaro tem mantido conversas políticas, embora em ritmo mais lento, recebendo pré-candidatos ao Senado, como Esperidião Amin (PP-SC) e a deputada Carol de Toni (PL-SC).
Também falou brevemente com Márcio Bittar (PL-AC), que tentará a reeleição ao Senado, e ouviu que não apoiará a indicação de Jorge Messias, Advogado-Geral da União escolhido por Lula para o STF.
O tema da sucessão presidencial é quase um tabu dentro do bolsonarismo e tratado com cuidado.
Na última visita do governador de São Paulo, Tarcísio focou em candidaturas ao Senado e não se envolveu no debate presidencial.
O desânimo do governador com a ideia de concorrer, apoiada por alguns empresários e políticos, é sentido também por interlocutores de Bolsonaro.
Anteriormente, o prazo imaginado para o ex-presidente escolher um sucessor era dezembro, agora se fala em fevereiro, março ou até abril, quando termina a janela partidária e o prazo para desincompatibilização.
Alguns aliados acreditam que nem o fim dos embargos nem a votação da anistia ou redução de penas no Congresso serão suficientes para que o ex-presidente desista da candidatura.
Para eles, Bolsonaro continuará como candidato, ainda que inelegível, até o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no meio do próximo ano – que será negado por sua inelegibilidade.