Decisão prevê que Paulo Milhomem seja julgado por tentativa de homicídio; ele atropelou Tatiana Matsunaga em agosto de 2021, no Lago Sul. Vítima teve sequelas; defesa não se pronunciou.
A Justiça do Distrito Federal determinou que o advogado Paulo Ricardo Moraes Milhomem vá a júri popular, por tentativa de homicídio contra a servidora pública Tatiana Fernandes Machado Matsunaga. Em agosto de 2021, ele a atropelou durante uma briga de trânsito, em frente à casa da vítima, no Lago Sul. O crime foi gravado por câmeras (assista acima) e o suspeito está preso desde então.
A decisão é do juiz substituto do Tribunal do Júri de Brasília, Frederico Ernesto Cardoso Maciel. Segundo o magistrado, o “denunciado teve a intenção de matar ou, quando menos, assumindo o risco de produzir o resultado morte, e arremeteu o veículo contra Tatiana Machado Matsunaga, atropelando-a intencionalmente e vindo, em seguida, a passar com o automóvel por cima da vítima”.
Após o ataque, a servidora ficou internada em UTI por semanas e teve sequelas. Questionada sobre a decisão, a defesa de Paulo Milhomem não quis se manifestar.
Em depoimento à Justiça, em março, ele disse “que não viu” que tinha passado por cima da vítima e negou ter atingido a mulher de propósito. O advogado responde por tentativa de homicídio qualificado, por motivo fútil. A defesa dele pediu a revogação da prisão preventiva, mas a solicitação foi negada pelo juiz.
Atropelamento
Advogado atropela mulher durante briga de trânsito no DF — Foto: Reprodução
O atropelamento ocorreu após o advogado perseguir Tatiana até a frente da casa dela e foi gravado por câmeras de segurança da QI 19 do Lago Sul. As imagens mostram que o réu avançou com o veículo e atropelou Tatiana.
De acordo com a Polícia Civil, Paulo Milhomem e a mulher discutiram na rua, na altura da QI 15 e o advogado a seguiu. As câmeras mostram o momento em que a Tatiana estacionou o carro. O advogado chegou logo depois.
No vídeo é possível ver que os dois discutiram. De carro, Milhomem foi até o fim da rua, enquanto Tatiana descia do veículo dela.
Neste momento, o marido da servidora saiu de dentro de casa, para ver o que estava acontecendo, e a discussão recomeçou, entre os três. Em seguida, o advogado avançou, de carro, e atropelou a mulher.
O marido dela saiu correndo em direção ao carro, mas voltou para socorrer a esposa. Segundo a família, o filho do casal, de oito anos, presenciou a cena.
Em depoimento à Justiça, Paulo Milhomem disse que não percebeu que tinha atropelado a vítima.
“Só senti uma batida no carro. Jamais imaginei que eu teria passado por cima dela, eu passei por cima do meio fio. Pra mim a colisão tinha sido lateral”, disse.
Durante o interrogatório, o advogado afirmou que arrancou com o carro porque achou que o marido de Tatiana estivesse “armado”. Cláudio Matsunaga negou a acusação.
“Em momento algum houve ameaça a essa pessoa. A única coisa que eu perguntei foi: você é louco? Vem perseguindo uma pessoa até a porta de casa? Meu filho tinha 8 anos. Ele saiu em pânico completo. É uma situação que ninguém consegue conceber o grau de trauma disso”.
Ao final da audiência, Paulo Milhomem chorou. “Gostaria de pedir desculpas a família da vítima. Estou muito … estou muito triste com a situação. Eu jamais quis causar qualquer problema para a senhora Tatiane. Foi uma situação que saiu do controle”, disse.
Tatiana Matsunaga teve sequelas neurológicas após o caso. Relatórios médicos apontaram perda de memória, além de delírios, alucinações visuais e perda de parte da visão de forma permanente e irreversível. Tatiana faz tratamento para reabilitação neurológica, e se recupera em casa.
Um laudo médico de 23 de março, ao qual a TV Globo teve acesso, aponta que a servidora pública estava com “prejuízo em manter a atenção” e que, do ponto de vista funcional, Tatiana “caminha devagar, com passos curtos e utiliza cadeira de rodas para deslocamentos no cotidiano”.
À época, o relatório do hospital indicava ainda que Tatiana “necessita de assistência e de supervisão para as atividades de vida diária”, além de “apresentar dor, que limita sua qualidade de vida”
Conforme o documento, a servidora pública desenvolveu “hemianopsia homônima esquerda”, ou seja, perda de parte da visão “de caráter permanente e irreversível”, com necessidade de ter “acompanhante para realizar suas atividades de vida diárias”.