O zoológico Parque Arruda Câmara, também chamado Bica, localizado em João Pessoa (PB), anunciou nesta segunda-feira (15/12) a data para retomar as atividades após estar fechado. O local foi fechado depois que Gerson de Melo Machado, de 19 anos, conhecido como “Vaqueirinho”, invadiu o espaço dos leões e foi atacado fatalmente por uma leoa, no dia 30 de novembro.
Segundo o comunicado, o zoológico irá reabrir normalmente a partir de quinta-feira (18/12). A notícia foi divulgada pelas redes sociais do parque.
“Chegou o momento de abrir novamente as portas da Bica para receber a população. Com responsabilidade, atenção e compromisso, o parque vai atender novamente visitantes para momentos de lazer, aprendizado e contato com a natureza. Esperamos vocês para essa nova fase”, afirma a nota.
Conforme autoridades, Gerson, que tinha transtornos mentais, escalou uma parede com mais de seis metros, ultrapassou as barreiras de segurança, usou uma árvore como apoio e entrou no espaço da leoa. O incidente foi registrado em vídeo por visitantes do local no dia dos fatos.
O laudo preliminar do Instituto Médico Legal (IML) indicou que a causa da morte foi choque hemorrágico devido ao rompimento de vasos sanguíneos no pescoço. A leoa mordeu o pescoço de Gerson, afetando artérias e veias. Segundo a perícia, o animal não consumiu o corpo da vítima.
Contexto social e familiar
A morte de Gerson revelou uma vida marcada por extrema pobreza, transtornos mentais sem tratamento e ausência de suporte familiar. A conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhou o jovem durante oito anos, relata que ele cresceu sem amparo e em condições precárias.
“Ele enfrentou várias violações de direitos desde pequeno. Filho de mãe com esquizofrenia e avós também com problemas mentais, viveu em extrema pobreza”, lembra Verônica.
Quando Gerson tinha 10 anos, foi levado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) ao Conselho Tutelar após ser encontrado sozinho em uma rodovia federal. Desde então, passou a fazer parte da rede de proteção da criança e adolescente.
A mãe perdeu a guarda há anos, mas ele continuava tentando contato. “Embora destituído da guarda, ele amava a mãe e esperava que ela pudesse cuidar dele. Fugia do abrigo para visitar a avó e a mãe”, explica Verônica.
Porém, devido ao estado mental da mãe, ela não conseguia cuidar do filho. “Muitas vezes ela dizia que não era mais mãe dele, sendo também vítima de sua doença”, acrescenta a conselheira.
Gerson foi o único entre os irmãos que não conseguiu ser adotado, provavelmente por seus transtornos. “A sociedade prefere adotar crianças sem complicações, o que é difícil para quem está em situação de acolhimento por negligência severa”, afirma Verônica.
O sonho de domar leões
Desde criança, Gerson repetia o desejo de viajar para a África e cuidar de leões. Esse sonho foi mencionado diversas vezes nas conversas com a equipe do Conselho Tutelar.
Em um episódio grave, ele tentou entrar ilegalmente em um avião. Verônica relatou o caso nas redes sociais.
“Você dizia que iria pegar um avião para a África para cuidar de leões. Tentou mesmo. Fiquei aliviada quando soube que você havia cortado a cerca e entrado no compartimento de carga do avião da Gol. Agradeci por terem percebido a tempo e evitado uma tragédia”, escreveu ela.
Policias que tiveram contato com Gerson confirmam que ele repetia sempre o sonho de ir à África cuidar dos leões. Com 16 ocorrências por pequenos danos e furtos, ele dizia que faria a viagem a pé, e os agentes tentavam explicar que o continente ficava do outro lado do oceano.