Após o encontro neste domingo (28/12) entre o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e Donald Trump, nos Estados Unidos, a questão territorial permanece como um dos principais obstáculos para se alcançar um acordo.
A Rússia continua exigindo concessões da Ucrânia, incluindo a incorporação de Donbass, região do leste. Zelensky declarou nesta segunda-feira (29) que solicitou aos Estados Unidos garantias de segurança robustas, com prazos superiores a 15 anos para proteção contra agressões russas.
Apesar das barreiras que dificultam um pacto duradouro num curto período, o presidente americano Donald Trump afirmou neste domingo estar próximo de um acordo de paz com a Ucrânia, após receber Zelensky em sua residência em Mar-a-Lago, na Flórida.
Embora Trump demonstre otimismo, ainda não foram estabelecidos prazos para implementação das medidas do plano de paz anunciado pelos EUA em 28 de novembro e ajustado diversas vezes. Após a reunião, que contou com participação telefônica de líderes europeus, ambos reconheceram variadas divergências pendentes entre russos e ucranianos, principalmente sobre a implantação territorial.
O principal impasse envolve Donbass, formado pelas regiões de Donetsk e Lugansk, cuja reivindicação é mantida pelo presidente russo Vladimir Putin com base em laços históricos e legado soviético. No entanto, a Constituição ucraniana declara o território como parte da Ucrânia.
Antes da reunião, Zelensky buscava convencer Trump a flexibilizar a proposta principal do plano de paz, que inclui a retirada total das tropas ucranianas da região, representando uma possível concessão do controle para Moscou.
Desde fevereiro de 2022, início do conflito, A Rússia tomou aproximadamente 12% do território ucraniano, após anexar a península da Crimeia em 2014. Trump e Zelensky admitiram que o futuro de Donbass ainda está indefinido. “Ainda não há resolução definitiva, mas estamos próximos”, declarou Trump. “É uma questão muito complexa”, acrescentou, indicando que restam apenas alguns pontos delicados a serem tratados.
Os EUA propuseram a criação de uma zona econômica especial caso a Ucrânia deixe Donbass, porém a operacionalização concreta dessa medida não foi detalhada. Apesar das dificuldades, Trump afirmou que “as negociações entre Rússia e Ucrânia devem se resolver nas próximas semanas” e ressaltou que manteve conversa telefônica prévia com Putin, prometendo novos contatos.
Garantias de segurança
Em mensagens nas redes sociais, Zelensky declarou ter havido avanços expressivos nas últimas semanas em discussões conduzidas pelas equipes americanas e ucranianas. Segundo ele, as etapas futuras foram definidas para viabilizar o plano de 20 pontos sugerido por Trump.
Zelensky afirmou ter alcançado um acordo preliminar sobre as garantias de segurança que serão destinadas à Ucrânia, porém Trump disse que está 95% resolvido e espera que os europeus assumam a maior parte das responsabilidades, com apoio dos EUA.
Nesta segunda-feira, Zelensky revelou que os EUA propuseram um pacote de garantias para um período de 15 anos com possibilidade de prorrogação. Ele solicitou que Washington considere prazos maiores, mencionando a possibilidade de 30, 40 ou até 50 anos. Trump irá analisar essa proposta.
O presidente ucraniano anunciou ainda que realizará nova reunião na Ucrânia nos próximos dias com líderes americanos e europeus para avançar nas negociações.
Após a reunião entre Trump e Zelensky, o presidente francês Emmanuel Macron reconheceu progressos nas garantias de segurança e convocou a coalizão de voluntários para reunião em Paris no início de janeiro para definir as contribuições.
Zelensky e Trump não divulgaram detalhes específicos dos acordos que envolvem a segurança pós-conflito. O presidente ucraniano afirmou que suspenderá a lei marcial, que impede principalmente que homens aptos para o serviço militar deixem o país, somente após o fim da guerra e obtenção das garantias necessárias.
Moscou mantém que qualquer presença de tropas estrangeiras na Ucrânia é inaceitável. Zelensky declarou que o acordo de paz deverá ser ratificado pelo Parlamento ucraniano ou através de referendo. Trump se disse disposto a discursar no Parlamento de Kiev.
Além disso, ficou marcada para a próxima semana uma reunião entre representantes ucranianos e americanos, seguida de encontro em Washington com Trump e líderes europeus.
A Europa continua empenhada em garantir segurança para Kiev com o apoio dos Estados Unidos. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a União Europeia está preparada para fortalecer a colaboração rumo a um acordo de paz.
Diálogo com Putin e situação militar
Pouco antes da chegada da delegação ucraniana à Flórida, Trump teve conversa telefônica com Putin, que descreveu como “muito produtiva”. Um conselheiro do Kremlin afirmou que o diálogo teve tom cordial e durou cerca de uma hora e quinze minutos.
Putin comentou que a proposta de trégua de 60 dias feita pela Ucrânia e União Europeia prolongaria o conflito, e ressaltou que Kiev deve tomar uma decisão corajosa em relação a Donbass.
No fim de semana, o exército russo intensificou ataques aéreos, atingindo Kiev e outras regiões com centenas de mísseis e drones, causando cortes no fornecimento de energia em alguns bairros da capital ucraniana.
Zelensky interpretou os ataques como reação de Moscou às negociações lideradas pelos EUA. Já Trump acredita que Putin tem intenções sinceras de buscar a paz.
Controle da usina nuclear e territórios
Sobre a usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, a administração americana sugeriu que Rússia e Ucrânia compartilhem o controle. Reparos nas linhas elétricas foram iniciados após cessar-fogo local negociado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Trump afirmou que houve avanços nas negociações para retomar as operações da usina quase imediatamente. Porém, Putin alertou que continuará a ofensiva militar caso Ucrânia não busque acordo rápido.
O exército russo afirmou ter tomado novas regiões da Ucrânia nas últimas semanas.

