Roma — Um dos fundamentos apresentados pela Justiça italiana para manter a prisão preventiva da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi uma entrevista concedida ao jornal italiano La Repubblica. A Corte entendeu que a declaração evidenciou o risco de fuga.
Segundo o Tribunal, a parlamentar mencionou poder contar com o suporte de “pessoas abastadas e influentes”, o que aumentaria a possibilidade de tentar escapar da Justiça brasileira.
Embora Zambelli e seu marido não tenham acesso a recursos financeiros no momento devido ao bloqueio de suas contas, o tribunal salientou que isso não elimina a possibilidade de fuga. As condições atuais poderiam permitir o uso de recursos estratégicos, facilitando o deslocamento, mesmo estando presa, com auxílio externo.
Na entrevista, realizada antes da prisão, Zambelli afirmou ter falado diretamente com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que teria contatado Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro da Itália.
“Sei que Flávio Bolsonaro, filho do presidente Bolsonaro, conversou com Matteo Salvini sobre a minha situação. Mas não sei se Salvini prometeu algo. Espero que sim, sou inocente”, declarou.
A deputada ainda mencionou amigos em comum com Elon Musk e criticou a ausência de apoio da direita italiana, incluindo Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália e fundadora do partido Fratelli d’Italia, conhecido por sua ligação com o neofascismo.
Situação de Carla Zambelli na Itália
Zambelli está presa na Itália desde 29 de julho, após quase um mês foragida da Justiça brasileira.
No dia 22 de agosto, o Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu, por 9 votos a 2, a condenação de Zambelli a 5 anos e 3 meses de prisão em regime semiaberto, além da perda de mandato, pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal.
Ela foi acusada de perseguir, armada, o jornalista Luan Araújo, simpatizante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Esta é a segunda condenação da deputada pelo STF. A primeira ocorreu pela Primeira Turma, que a sentenciou a 10 anos e oito meses de prisão, baseada em sua participação na invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2023 e na inserção de documentos falsos na plataforma.
Decisão médica oficial
A Justiça italiana enfatizou que um perito judicial indicado pelo Tribunal de Roma concluiu que Zambelli não apresenta condições de saúde que justifiquem a revogação da prisão preventiva.
“O estado de saúde de Zambelli de Oliveira foi considerado compatível com a prisão, de acordo com o relatório pericial, descartando a necessidade de medida menos rigorosa”, explicou a Justiça italiana.
O laudo contestou os argumentos da defesa, detalhando que:
- Depressão: não há indícios de risco de automutilação. Os sintomas estão controlados por medicação e acompanhamento psiquiátrico;
- Taquicardia e quedas de pressão: consideradas estáveis, sob tratamento farmacológico;
- Síndrome de Ehlers-Danlos: avaliada como não grave o suficiente para representar risco de vida;
- Diverticulose: monitorada, com atendimento médico disponível em crises.
O perito afirmou que o exame não indicou sinais de deterioração orgânica ou condições que comprometessem as funções corporais ou o prognóstico vital.
Familiares e defesa alegam que a deputada sofre de pelo menos dez doenças e contrataram uma perícia paralela à oficial para tentar comprovar que sua condição de saúde piorou após a detenção, justificando a soltura. O documento apresenta quase 90 páginas com o objetivo de demonstrar essa situação.