O discurso de Putin foi recebido com a “histeria formalista do Ocidente”, segundo Raffone. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o embaixador dos EUA em Kiev afirmaram que a mobilização parcial da Rússia e os referendos são “sinais de fraqueza”. O ministro alemão da Economia, Robert Habeck, disse que o desenvolvimento é “ruim e errado”, enquanto o secretário britânico da Defesa, Ben Wallace, declarou que o discurso de Putin indica que a Ucrânia está “ganhando”.
Por sua vez, o primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki disse que Varsóvia “não pode concordar” com a decisão russa. Qualquer que tenha sido a forma como os líderes ocidentais reagiram ao discurso de Putin, agora está claro que qualquer atividade militar contra as regiões em questão significará automaticamente uma “guerra contra a Rússia”, segundo Raffone. “Este é um forte impedimento que já funcionou no caso da Crimeia”, argumentou o diretor do think tank. “Se os EUA ou alguns Estados da UE não entenderem este ponto, a escalada da guerra é uma certeza.”
“O referendo é uma consequência lógica do confronto atual”, disse Tibério Graziani, presidente da Vision & Global Trends, um think tank de assuntos internacionais com sede na Itália. “Faz parte da construção da zona de segurança da Federação da Russa. Além disso, garante a participação das populações ali residentes na vida política e civil, comprometidas pelo menos desde 2008.”
Ao mesmo tempo, o impasse é muito mais amplo do que um conflito russo-ucraniano, de acordo com Raffone. A crise decorre da intenção de Washington de evitar o declínio de seu domínio global, explicou o estudioso. O diretor do think tank observa que, neste esquema, a Ucrânia tem sido usada pelos EUA como um “cavalo de Tróia” contra a UE e a Rússia. “Desde 2001, o resto do mundo começou a trabalhar em uma nova ordem mundial que visava relativizar o domínio dos EUA”, argumentou Raffone.
“A Europa é uma obra-prima do domínio dos EUA que não pode ser deixada acessível aos ‘outros’ e não deve ter autonomia estratégica. Para isso, os EUA têm constantemente pressionado a Alemanha, que ousou desafiar os EUA com vários acordos (não apenas no setor energético) com a Rússia e acordos comerciais com a China. Os planos para desestabilizar a Alemanha e a UE começaram em 2004-2008 e avançaram desde 2014, usando a Ucrânia como um cavalo de Tróia contra a UE e a Rússia.”
Enquanto isso, a decisão de mobilização parcial anunciada por Putin vai ter um efeito estabilizador sobre o conflito, impedindo-o de uma nova escalada, segundo Raffone.
“Além disso, o envio de tropas russas adicionais para as regiões de Lugansk, Donetsk, Zaporozhye e Kherson cria as condições de segurança para que o referendo ocorra”, ressaltou o diretor do think tank.