Viajar pode ser uma experiência cansativa e desafiadora, especialmente para quem tem condições neurodivergentes, como transtorno do espectro autista (TEA), transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e dislexia. O desconforto físico de longos períodos em poltronas pequenas e a alimentação inadequada se somam a situações que podem causar crises emocionais.
Segundo o neuropsicólogo Gustavo Saminêz, da Clínica Emanah, em Cuiabá (MT), ambientes com excesso de estímulos sensoriais, como multidões, ruídos altos e luzes fortes, são gatilhos para crises e sobrecarga emocional. Nessas situações, o sistema nervoso pode entrar em modo de luta ou fuga, levando a manifestações como o shutdown ou colapso sensorial.
A pressão prolongada da viagem, com incertezas como mudanças de portão e conflitos por bagagens, também aumenta o estresse, podendo prejudicar o progresso terapêutico de quem está em tratamento. Por isso, é recomendável que iniciantes consultem especialistas antes de planejar a viagem.
Planejamento para evitar crises
Para quem decidir viajar, estratégias de antecipação podem ajudar a gerenciar as emoções. Simular o trajeto, mostrar fotos do destino e explicar as etapas da viagem são métodos úteis para reduzir a ansiedade antecipatória. Além disso, itens como fones com cancelamento de ruído, brinquedos sensoriais e baterias extras para celular devem estar na bagagem de mão.
Dicas para uma viagem tranquila com neurodivergências
- Antes da viagem: Planeje com antecedência, escolha épocas menos movimentadas e prepare um roteiro flexível com pausas. Leve recursos sensoriais, como fones de ouvido, óculos de sol e cordões identificadores que indiquem sua condição.
- Durante a viagem: Comunicar suas necessidades é fundamental. Peça ajuda à equipe do transporte ou do hotel, solicite embarque prioritário para maior conforto e pratique técnicas de relaxamento, como exercícios de respiração. Busque ambientes mais calmos e, sempre que possível, viaje acompanhado. Pessoas neurodivergentes podem ter direito a descontos para acompanhantes.
- Para acompanhantes: Respeite as necessidades da pessoa neurodivergente e ofereça suporte sem forçar ajuda.
Técnicas de autorregulação
A psiquiatra Danielle Admoni destaca a importância de diferenciar ansiedade comum de crises mais graves, que podem incluir sudorese intensa, náuseas e dificuldade para respirar. Técnicas respiratórias e buscar locais silenciosos são recomendações eficazes para acalmar o sistema nervoso.
Apoio em aeroportos e terminais
A criação de ambientes acolhedores, como salas sensoriais com iluminação reduzida e menos ruído, está se tornando mais comum em aeroportos brasileiros, como os de Recife, Congonhas e Santos Dumont. Placas e mapas visuais claras são essenciais para facilitar a orientação, principalmente para pessoas com dificuldades sensoriais.