SAMUEL FERNANDES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Pessoas que ingeriram metanol em São Paulo durante uma onda de bebidas adulteradas apresentaram perda parcial ou total da visão. A recuperação desses danos é pequena, e o sucesso do tratamento depende principalmente da rapidez após a intoxicação.
Isso acontece porque o metanol, ao ser processado no corpo, se transforma em formaldeído e ácido fórmico. Este último dificulta o uso de oxigênio pelas células, quase como se as sufocasse.
Marcus Gaz, cardiologista e gerente médico do Einstein Hospital Israelita, explica que os nervos, especialmente o nervo óptico, são muito sensíveis a isso, fazendo com que as células sofram e morram, prejudicando a visão.
Pesquisas científicas estudaram o problema para verificar se os danos na visão continuam após a fase inicial da intoxicação. Um estudo acompanhou 27 pessoas que sobreviveram a uma crise na Estônia em 2001 por seis anos.
Os resultados mostraram que as sequelas, incluindo as visuais, permaneciam seis anos depois, indicando danos permanentes.
Outro estudo analisou o afinamento da retina em 83 pessoas, entre elas 42 que tinham histórico de intoxicação por metanol. Eles passaram por avaliações até quatro anos após o incidente.
Concluiu-se que o metanol pode causar danos neurológicos que continuam a provocar afinamento da retina anos após a exposição, agravando ou mantendo os problemas na visão.
Flavio Mac Cord, diretor da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, observa que esses resultados estão alinhados com os relatos de diversos países e reforçam que os danos causados pelo metanol são geralmente estruturais e permanentes.
É POSSÍVEL EVITAR OU REVERTER?
O melhor jeito de evitar problemas na visão causados pelo metanol é o tratamento rápido com etanol farmacêutico ou fomepizol. Essas substâncias impedem que o metanol vire ácido fórmico, protegendo contra as sequelas visuais.
Fábio Ejzenbaum, professor e chefe do Departamento de Neuroftalmologia da Santa Casa de São Paulo, destaca a importância de remover o metanol do corpo o mais rápido possível para evitar danos duradouros ao nervo óptico.
Emerson Castro, oftalmologista do Hospital Sírio-Libanês, explica que o nervo óptico é um tecido nervoso, o que torna a recuperação difícil, comparando a lesão a um dano cerebral.
Casos de recuperação existem, mas são raros. Fatores como o início rápido do tratamento e a menor quantidade de metanol ingerida aumentam as chances de melhora.
TRATAMENTOS PARA AS SEQUELAS VISUAIS
Cientistas têm pesquisado tratamentos para os danos na visão causados pelo metanol, mas faltam provas claras de eficácia. Emerson Castro menciona o uso de corticoides intravenosos, que podem melhorar a visão devido ao efeito anti-inflamatório, porém os benefícios a longo prazo são incertos, segundo Fábio Ejzenbaum.
Outra alternativa citada é o uso de antioxidantes e vitaminas do complexo B, que podem ajudar no funcionamento das células, mas também carecem de evidências sólidas.