O estilo de vida sofisticado e a rotina de um condomínio de alto padrão em Águas Claras foram interrompidos por uma operação da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), na última terça-feira (14/10). O foco da ação era um jovem de 18 anos, residente em um apartamento moderno onde morava apenas com seu irmão gêmeo.
Segundo as investigações, o jovem foi preso em flagrante pelo crime de tráfico de drogas. No imóvel, foram encontrados pelos policiais porções de haxixe, maconha e comprimidos de ecstasy, meticulosamente armazenados em sacos do tipo “ziplock”, prontos para venda. As negociações, conforme apurou a polícia, eram feitas através das redes sociais, com uma clientela de alto poder aquisitivo, composta principalmente por jovens da região.
Contrariando a imagem comum de traficante, o jovem mantinha uma rotina cuidadosa. Os agentes acharam um caderno de anotações no apartamento, que despertou a atenção pela riqueza de detalhes. Nas páginas, escritas com caligrafia firme e organizada, ele fazia reflexões sobre a existência, dinheiro e seus sonhos pessoais.
Entre as revelações, expressava o conflito entre o desejo de enriquecer rapidamente e o medo de decepcionar a família. “Eu preciso melhorar minhas coisas, mas odeio quando algo é comprado pelos meus pais. Não tenho interesse em errar, mas quero ter minha vida boa, coisas de marca, dinheiro cedo. Como faço isso?”, anotou em seu diário.
Em outra passagem, o jovem mostrava aversão ao trabalho formal e almejava sucesso sem o caminho tradicional: “Trabalho de CLT: forma mais difícil e tola de ganhar dinheiro. Tento manter o foco, mas está difícil. Estou com raiva e se não for agora, vou explodir.”
Também havia uma lista de objetivos para 2025, demonstrando a contradição entre o arrependimento e a vontade de uma nova vida: “Ganhar dinheiro de forma lícita, evitar que pessoas saibam do meu passado, criar ou manter bons hábitos, sair do CLT, terminar os estudos e tirar a CNH provisória.”
No entanto, a realidade no apartamento mostrava o contrário: embalagens para dividir as drogas e comprovantes de transferências bancárias via aplicativos.
Quanto à família, o jovem dividia o apartamento com o irmão gêmeo, que não foi preso, mas será ouvido pela polícia. O pai, servidor do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), vive em Taguatinga.
No diário, ele descrevia o distanciamento familiar e o desconforto com a falta de diálogo: “As pessoas me veem como se eu fosse um criminoso”, escreveu — uma ironia dolorosa diante dos fatos.
O jovem foi levado à Cord e autuado em flagrante por tráfico de drogas (artigo 33 da Lei 11.343/2006). O material recolhido passará por perícia, enquanto a polícia investiga possíveis fornecedores e compradores do esquema.