RANIER BRAGON e VICTORIA AZEVEDO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
A posição de vice-presidente na provável candidatura à reeleição de Lula (PT) em 2026, que antes despertava disputas nos bastidores entre partidos de centro e direita, perdeu relevância devido à queda na popularidade do presidente e às diversas crises enfrentadas pelo governo federal.
Inclusive, membros do próprio PT admitem que a pressão dos aliados para garantir essa vaga diminuiu consideravelmente, atualmente ocupada por Geraldo Alckmin (PSB).
Mesmo assim, setores do MDB afirmam que ainda não descartaram a possibilidade de pleitear a posição, caso algumas circunstâncias se alterem. Uma delas é a recuperação da popularidade de Lula e sua condição de favorito. Outra, caso Jair Bolsonaro (PL) mantenha a intenção de lançar um familiar como candidato.
Dentro do MDB, são destacados o governador do Pará, Helder Barbalho, e os ministros Renan Filho (Transportes) e Simone Tebet (Planejamento) como possíveis nomes para a vice.
Porém, há resistência em partes do partido contra essa aliança, incluindo figuras como o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e o ex-presidente Michel Temer, que lidera uma articulação para unir governadores de direita e centro-direita em torno de uma candidatura única para 2026.
O partido planeja definir sua posição oficial sobre as eleições presidenciais apenas em sua convenção do próximo ano.
Integrantes do MDB ouvidos pela Folha destacam que, caso as condições sejam favoráveis, a oferta da vaga de vice será fundamental para aprovar o apoio formal do partido na convenção.
Os emedebistas negam que essa negociação esteja em andamento no momento, enquanto negociam uma federação com o Republicanos, partido do Tarcísio de Freitas. Tarcísio é considerado um potencial adversário de Lula em 2026, embora não necessariamente pelo partido atual.
Oficialmente, membros do governo também negam qualquer discussão sobre a vaga de vice no momento e elogiam a postura de Alckmin.
“Gostaria de afirmar o respeito que tenho pelo vice-presidente Alckmin, ele tem sido um excelente vice e continuará sendo”, afirmou a ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) em entrevista recente.
Há consenso entre aliados de que a chance de Lula autorizar mudanças na vice-presidência é remota, devido à forte relação pessoal com Alckmin.
Essa situação poderia ser revista caso Alckmin optasse por concorrer a outros cargos nas eleições de 2026, como o governo de São Paulo ou o Senado, hipótese considerada improvável por colaboradores próximos.
Além dos setores do MDB, nenhum outro partido de centro e centro-direita na base do governo demonstra interesse real em compor a chapa presidencial.
O PSD já demonstrou interesse anteriormente, mas o presidente do partido, Gilberto Kassab, declarou que terão candidatura própria e apoia o governador Tarcísio em 2026.
Com a popularidade baixa, partidos aliados como Republicanos, PP e União Brasil consideram candidaturas próprias ou alinhamentos no campo da direita, com Tarcísio sendo o favorito.
Diante desse contexto, petistas e membros do Palácio do Planalto pretendem trabalhar para que essas legendas permaneçam neutras na disputa, evitando apoiar formalmente adversários.
Uma exceção ocorreu em março, quando o ministro Celso Sabino (Turismo), deputado licenciado do União Brasil no Pará, disse que apoiaria a indicação de seu partido para a vice na chapa de Lula.
Em entrevista à CNN, Sabino definiu isso como o “cenário ideal” e reafirmou essa intenção por meio de sua assessoria.
Entretanto, o União Brasil é atualmente o partido mais discordante do grupo aliado a Lula, está concluindo uma federação com o PP em postura de oposição e liderou a resistência na Câmara contra o pacote de aumento de impostos do ministro Fernando Haddad (Fazenda).