MAELI PRADO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O setor de viagens corporativas registrou um aumento de 39% na receita com passagens aéreas para os Estados Unidos em julho, impulsionado pelo anúncio do presidente Donald Trump sobre uma tarifa de 50% para o Brasil e pela desvalorização do dólar.
Segundo dados da Abracorp (Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas), o faturamento chegou a R$ 22,1 milhões no último mês, comparado a R$ 15,9 milhões em julho do ano anterior.
O total arrecadado com voos corporativos para todas as regiões foi de R$ 221,5 milhões, um aumento mais modesto de 6,59% em relação a julho de 2024.
Douglas Camargo, diretor executivo da Abracorp, acredita que este crescimento está vinculado às tarifas elevadas, com empresários e órgãos públicos viajando mais aos EUA para negociações.
Em junho, o faturamento com voos para os EUA estava estável em R$ 15,1 milhões na comparação anual. O anúncio das tarifas aconteceu em 9 de julho, o que, segundo Camargo, motivou a alta nas viagens para o país.
Ele ressalta que a demanda por voos para os EUA superou o aumento geral de viagens, indicando que muitas negociações com clientes e governo local estão em andamento.
Especialistas também atribuem esse aumento à redução do dólar, que caiu de mais de R$ 6 no início de 2025 para menos de R$ 5,50 em junho, facilitando viagens internacionais.
Luana Nogueira, diretora-executiva da Alagev (Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas), comenta que as empresas geralmente têm um processo de compras internacionais com mais de 30 dias, explicando o crescimento observado.
Dados do Banco Central confirmam que julho foi um mês excepcional para viagens de negócios internacionais, com gastos de brasileiros alcançando US$ 651 milhões, o maior valor desde 2005, representando um aumento de 27,1% em relação a julho de 2024.
No primeiro semestre de 2025, o crescimento havia sido de 13,5%, indicando uma tendência contínua de alta no setor.
Nogueira destaca o recorde alcançado e a força do mercado de viagens corporativas, reforçando a importância da economia aquecida para o crescimento.
Camargo observa que, a partir de agosto, o aumento nas viagens para os EUA pode desacelerar, pois empresas podem buscar outros destinos devido às tarifas elevadas.
Além disso, novas regras para obtenção de visto nos EUA tornaram o processo mais caro e burocrático, com exigência de entrevistas presenciais para a maioria dos solicitantes e aumento das taxas para cerca de R$ 2.500, o que pode desestimular viagens.
Nogueira acrescenta que o governo americano implementou medidas rigorosas para entrada no país e que nos próximos meses será observado se haverá migração de passageiros para outros mercados.
O setor de viagens de negócios tem se recuperado dos impactos da pandemia desde 2023, com aceleração em 2024 e continuidade em 2025, embora em ritmo reduzido.
A Abracorp acredita que essa recuperação ocorre pela valorização do contato presencial nas negociações empresariais.
Camargo explica que um terço das viagens de negócios serve para fechar contratos e 30% para atendimento pós-venda, situações em que o contato pessoal é indispensável. Nogueira reforça a importância crescente das negociações presenciais e eventos para as empresas.
A expectativa da Abracorp é que, em 2025, os gastos com viagens de negócios aumentem entre 5% e 10%, abrangendo custos com hotéis, passagens aéreas e aluguel de carros.