ADRIANA FERNANDES, CAROLINA MANDL E JÚLIA MOURA
BRASÍLIA, DF E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A negociação de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) emitidos pelo Banco Master no mercado secundário tem aumentado a pressão sobre o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que protege os investidores caso um banco quebre ou seja liquidado. O FGC, financiado pelos próprios bancos, garante o ressarcimento de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ.
Investidores que possuem CDBs do Master acima do limite garantido pelo FGC estão vendendo esses títulos para outros investidores no mercado secundário.
Por outro lado, os compradores mantêm suas compras abaixo do limite de R$ 250 mil para garantir a proteção do fundo, o que amplia a responsabilidade do FGC em cobrir esses valores se o Banco Central decidir liquidar o Master.
Essa movimentação tem gerado descontentamento nos principais financiadores do FGC, que são os grandes bancos. O fundo não deseja conceder mais recursos para o banco, pois o Master precisará de mais dinheiro para pagar os CDBs que estão vencendo. Pessoas próximas às negociações dizem que a liquidação do banco pelo BC está cada vez mais próxima.
A liquidação será considerada caso o Master falhe em cumprir suas obrigações financeiras, o que dependerá da situação do caixa do banco.
O Master necessita de cerca de R$ 300 milhões em outubro para pagar seus compromissos e mais de R$ 1 bilhão nos meses seguintes, segundo fontes anônimas. O banco não respondeu aos pedidos de informação e o FGC não comenta casos específicos.
Nas corretoras da XP, por exemplo, CDBs do Master estão sendo vendidos no mercado secundário com rendimentos de até 25,50% ao ano, IPCA + 21% e CDI + 11%.
De acordo com a plataforma Quantum Finance, esses retornos são muito superiores à média do mercado, que ao fim de setembro estava em torno de 13,73% para prefixados, IPCA + 8,11% para atrelados à inflação e 99,8% do CDI para os que seguem a taxa DI.
O marketplace Meelion indica que os títulos do Master oferecem uma rentabilidade até 13 vezes maior que a média dos demais produtos de renda fixa.
Críticos da venda no mercado secundário defendem que o Banco Central tome medidas mais duras e até suspenda as negociações.
Porém, para Atahualpa Padilha, economista e advogado do Benício Advogados, só uma decisão judicial pode proibir a comercialização desses títulos no mercado secundário.
Ele ressalta que esses CDBs podem se tornar ativos difíceis de vender (ativos tóxicos) antes que as negociações cessem naturalmente por falta de interesse dos compradores.
CARTÃO DE CRÉDITO
Além dos desafios para pagar os CDBs, o Banco Master enfrenta pedidos de garantias extras das bandeiras de cartão Visa e Mastercard, preocupadas com uma possível liquidação do banco que poderia afetar o pagamento a outras empresas e comerciantes.
Consumidores podem ficar receosos em pagar suas faturas caso saibam da situação financeira delicada do banco.
A Visa não quis comentar e a Mastercard não retornou aos pedidos de informação até a publicação da reportagem.
HUCK
Um grupo de investidores, incluindo o apresentador Luciano Huck e a gestora EB Capital, desistiu de adquirir o Will Bank, controlado pelo Master, após analisar o ativo por duas semanas.
Outros investidores continuam interessados no Will Bank, incluindo um fundo estrangeiro de private equity e o Banco de Brasília (BRB). Luciano Huck e EB Capital não comentaram.
A venda do Will Bank poderia ajudar a reduzir as dívidas do Banco Master, que recentemente precisou recorrer a uma linha emergencial de crédito de R$ 4,5 bilhões do FGC, vencida em 1º de outubro.
