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sexta-feira, 22/11/2024
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Barriga de aluguel, novas famílias, feminismo e relação entre irmãos são alguns dos ingredientes dos longas

Clotilde Hesme vive Diane, uma mulher que topa uma barriga de aluguel para ajudar amigos no longa O poder de Diane. (foto: Petit Films/Divulgação)

 

Clotilde Hesme estava no fim da segunda gravidez quando filmou as cenas em que aparece com o barrigão flutuando em uma piscina de plástico. E por aí se encerra a semelhança com a realidade do longa O poder de Diane, de Fabien Gorgeart, em cartaz no Festival Varilux do Cinema Francês 2018. É verdade que ela amamentou Selma durante as filmagens, mas faz questão de dizer que procurou manter distância psicológica da personagem como uma maneira de separar a ficção da vida real durante um período de grande fragilidade emocional.

Era a única forma de não se abalar com a história de Diane, uma mulher um tanto sem rumo que aceita ser barriga de aluguel para satisfazer o desejo de paternidade de um casal de amigos homossexuais. “Tem, com certeza, algo muito psicológico em encenar esse papel. Mas, ao mesmo tempo, foi muito concreto: não fiquei me fazendo perguntas muito psicológicas, coisa que, aliás, raramente faço. Sou mais do tipo físico e instintivo, não intelectual, e nesse filme menos ainda”, avisa a atriz. A única cena em que a barriga de Clotilde realmente aparece é a da piscina. Todas as outras foram filmadas um mês e meio depois do parto.

Diane não sabe ao certo no que está se metendo quando topa a empreitada com o casal. É de sua personalidade, sua impulsividade, mas também sua generosidade que o roteiro de Gorgeart trata, texto, aliás, escrito especialmente para Clotilde. Em tom de comédia que, eventualmente, desliza um pouco para o exagero, o longa traz para a tela alguns debates ainda marcados pelo preconceito e pelo tabu. O primeiro deles é a própria barriga de aluguel, situação proibida hoje pela lei francesa, mas alvo de uma pressão social que faz tremer os conservadores. O outro é sobre as várias formas de família ali expostas. E há também uma discussão saudável sobre a maternidade: ela não é inata e há sim mulheres como Diane, que nunca quiseram nem se derreteram com a ideia de ter filhos.
No entanto, o filme não traz um debate pronto. É como se essa parte, a da reflexão e da discussão do assunto, fosse coisa posta e resolvida. Gorgeart preferiu focar em como essa mulher de pouco mais de 30 anos lida com a questão. “O filme interroga essas novas formas de parentalidade e redefine também o que é um homem, uma mulher, um casal, amantes. A normalidade está com o casal homossexual que espera a criança. Eles têm apartamento, são sérios, mais ‘normais’ em relação a ela, que é imatura e não teve muito a dimensão do que está fazendo. Acho que isso é muito feminista também”, acredita a atriz, quando questionada sobre o fato de o papel ter sido escrito por um homem.

Momento

Clotilde Hesme tem sido uma das atrizes queridinhas do cinema de autor francês. Dividiu a cena com Louis Garrel em Os amantes regulares, de Philippe Garrel, e em As canções de amor, de Christophe Honoré. Também esteve na série Les revenants, raro sucesso da tevê francesa no exterior e, em 2012, ganhou o César de melhor atriz por Angèle et Tony, de Alix Delaporte. Em todos, a atriz esteve mais próxima de personagens tristes ou sombrios do que em O poder de Diane. “É o papel mais próximo de mim”, garante. “Gorgeart se inspirou dessa coisa um pouco burlesca e muito grande, porque sempre é necessário que eu não seja muito grande nos filmes, e ele exagerou isso. Isso serve ao propósito do filme porque, em certo momento, Diane é transbordada por seu corpo, sua barriga, e isso ultrapassa a moldura da tela.”
Sobre a questão do assédio na indústria do cinema depois das denúncias contra o produtor Harvey Weinstein, ela acredita que não é uma discussão exclusiva das mulheres. Diz que não gostou do manifesto assinado por Catherine Deneuve no Le Monde, mas entende que ela e as outras autoras do texto vivem em uma realidade paralela. “Elas estão desconectadas da realidade porque são mulheres desconectadas. Vivem em outra realidade, um pouco privilegiadas demais para compreender”, repara. “Tenho muita esperança em uma geração que é um pouco como essa do filme. Falo com muitas pessoas de 20, 30 anos que entendem que é preciso que o` cinema do papai´ termine. O problema é que, na França, não falamos o suficiente sobre isso. A gente poderia ter discutido mais de forma concreta.”

Festival Varilux do Cinema Francês 2018

Até 20 de junho, no Cine Cultura (Liberty Mall), Cinemark Pier 21, Espaço Itaú de Cinema (CasaPark) e Sala Le Corbusier (Embaixada da França). Confira horários no roteiro.

     

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