O Vaticano declarou nesta quarta-feira (12/11) que as supostas aparições de Jesus Cristo em Dozulé, uma pequena cidade na Normandia, no norte da França, não são de origem sobrenatural. A decisão, sancionada pelo papa Leão XIV e divulgada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, encerra oficialmente décadas de polêmica sobre o caso. A colina onde as aparições teriam ocorrido tornou-se conhecida e visitada como ponto de peregrinação.
Entre 1972 e 1978, a católica Madeleine Aumont afirmou ter visto Jesus 49 vezes. Segundo ela, Cristo transmitiu mensagens espirituais e pediu a construção de uma cruz luminosa de 7,38 metros em uma colina, simbolizando a redenção e a sua segunda vinda.
A Igreja Católica possui um protocolo formal para avaliar fenômenos sobrenaturais e aparições associadas a figuras sagradas. Após anos de estudos, o Vaticano concluiu que as manifestações relatadas em Dozulé “não possuem origem divina verdadeira”.
“O fenômeno das supostas aparições em Dozulé deve ser considerado definitivamente como não sobrenatural, com todas as consequências decorrentes dessa decisão”, afirma o comunicado.
A Colina de Jesus de Dozulé, local onde Madeleine Aumont disse ter recebido as visões, fica em uma área elevada perto da cidade e tornou-se, ao longo do tempo, um local de peregrinação espontânea. Ali, fiéis começaram a se reunir para orar e erguer pequenas cruzes, acreditando que Jesus se manifestou naquele local.
Mesmo sem reconhecimento oficial da Igreja, a colina adquiriu importância entre católicos franceses e estrangeiros, sendo denominada pelos devotos como “Colina da Cruz Gloriosa” ou simplesmente “Colina de Jesus”. Com a nova diretriz do Vaticano, o local passa a ser visto apenas como um espaço de devoção individual, sem caráter sobrenatural.
Retorno de Jesus
Na carta, o Dicastério ressaltou que, embora as mensagens de Madeleine Aumont abordassem temas centrais da fé cristã, como conversão e penitência, continham também interpretações teológicas controversas. Entre elas, a associação física da cruz de Dozulé à cruz de Jerusalém e a previsão de que o mundo terminaria antes do ano 2000, algo que “claramente não ocorreu”.
“A Cruz não necessita de uma estrutura de 7,38 metros em aço ou concreto para ser reconhecida: ela é erguida sempre que um coração, movido pela graça, se abre para o perdão… Embora o tema do retorno do Senhor faça parte da fé cristã, a Igreja destaca que, mesmo sendo verdade de fé, ninguém pode saber ou anunciar a data ou sinais exatos, e desconfia de interpretações cronológicas ou milenaristas desse retorno, que podem tentar determinar tempos ou formas do juízo final”, afirmou o Vaticano no comunicado.
O texto também alertou para o risco de mensagens particulares distorcerem a doutrina católica ou originarem práticas sem apoio oficial. Segundo o documento, nenhuma aparição privada pode substituir “os meios de graça estabelecidos por Cristo”, e a fé deve sempre apontar para Jesus, e não para símbolos ou mensagens independentes.
O Vaticano reafirmou que a fé cristã inclui a crença no retorno de Cristo, mas rejeitou interpretações que tentem prever datas ou sinais específicos para o fim dos tempos.
