Um relatório divulgado pelo Vaticano, nesta quinta-feira (16/10), revela que a Igreja Católica não tem atendido adequadamente as pessoas que relataram terem sido abusadas por membros da Santa Sé.
O documento foi elaborado pela Comissão de Proteção à Criança do Vaticano, criada pelo falecido Papa Francisco em 2014. No relatório de mais de 100 páginas, a alta cúpula da Igreja Católica é criticada por não agir com a devida rapidez para amparar as vítimas e implementar medidas de proteção globalmente.
Segundo o relatório, a Igreja deve informar às vítimas sobre o andamento das denúncias e sobre as punições aplicadas aos acusados. “Em diversos casos, as vítimas relatam que a Igreja responde com promessas vazias, ações simbólicas e uma recusa contínua em lidar seriamente com aqueles que buscam justiça”, afirma o texto.
Reparações às vítimas
O estudo divulgado nesta quinta-feira enfoca principalmente a questão das compensações às vítimas de abuso e também analisa os esforços de proteção da Igreja em 22 países e em um departamento importante do Vaticano.
O departamento avaliado é o Dicastério para a Evangelização, responsável por administrar as operações da Igreja em grande parte das nações em desenvolvimento.
O relatório assinala que no dicastério há apenas um funcionário dedicado a lidar com temas de proteção e que a ausência de clareza na distribuição das responsabilidades causa confusão e atrasos no início das investigações e na assistência às vítimas.
Dentre os países avaliados está a Itália, que segundo o documento, tem demorado para enfrentar as questões relacionadas ao abuso por membros do clero. Apenas 81 das 226 dioceses católicas italianas responderam ao questionário sobre práticas de proteção enviado pela Comissão.
Por outro lado, a Coreia do Sul obteve participação de 100% das dioceses.
Ao longo de décadas, a Igreja Católica tem sido abalada por escândalos ligados a abusos e encobrimentos por parte do clero em vários países. Isso compromete sua credibilidade e gera custos financeiros elevados devido a acordos judiciais.
Comissão contra abusos
A comissão criada por Papa Francisco para aprimorar o enfrentamento dessas situações enfrentou a renúncia de diversos membros durante os últimos 11 anos. O primeiro relatório foi divulgado apenas no ano passado.
Essa comissão é pioneira na Igreja Católica em termos de combate ao abuso. Papa Francisco, que faleceu em abril, fez dessa luta uma prioridade durante seu pontificado de 12 anos, implementando, por exemplo, um sistema global para denúncias de abusos e encobrimentos por bispos.
Papa Leão XIV, eleito em maio para suceder Papa Francisco, reuniu-se diversas vezes com os integrantes da comissão e designou um novo presidente, um arcebispo francês, em julho.