DANIELE MADUREIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Nos Estados Unidos, a Black Friday é usada para escoar estoques antes do Natal, mas no Brasil a situação é diferente.
Os brasileiros preferem adiantar as compras de Natal na última sexta-feira de novembro para aproveitar os descontos, utilizando a primeira parcela do 13º salário, deixando apenas pequenos presentes e itens para a ceia para o mês de dezembro.
Este ano, os lojistas brasileiros planejam investir menos em propaganda para a Black Friday. A intenção é oferecer menos promoções nessa data e focar mais nas vendas de Natal, onde os descontos são menores, garantindo assim maior lucratividade.
Essa avaliação é de Daniel Sakamoto, gerente executivo da CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas) e um dos responsáveis pela pesquisa sobre contratações no varejo para o fim do ano.
Para produtos de tecnologia e eletrônicos, que são muito populares na Black Friday, a data continuará sendo a principal para as vendas anuais, afirma ele.
“Muitos lojistas pretendem diminuir a divulgação da Black Friday para focar mais no Natal, onde a margem de lucro é maior”, explica o executivo, ressaltando que a Black Friday não será eliminada, apenas sua estratégia será ajustada para não prejudicar as vendas de dezembro.
“Até pequenas e médias lojas participam da Black Friday porque os grandes fazem isso. Existe Black Friday para tudo”, diz. No entanto, nos últimos anos, o varejo percebeu que essa estratégia não funciona bem no Brasil, e o foco na margem de lucro aumentou.
“Com o avanço dos grandes marketplaces e concorrentes asiáticos, o varejo está trabalhando com margens muito apertadas. As grandes redes estão endividadas e se dependem só de promoções para vender, acabam com pouco dinheiro no caixa. Não compensa reduzir a margem para vender mais na Black Friday, deixando o Natal fraco.”
Para os marketplaces, que vendem grandes volumes e não mantêm estoques, a Black Friday continua sendo muito importante, especialmente para tecnologia, completa Sakamoto.
Os consumidores também estão menos animados com a Black Friday do que no começo da década passada, conforme reportagens mostram que os descontos já não são tão atrativos e alguns preços chegam a subir.
Para os lojistas, o tema é delicado. Como o público criou uma expectativa na Black Friday, ninguém quer admitir que a data pode não compensar financeiramente para evitar perder clientes para a concorrência.
Um diretor de uma rede de supermercados em São Paulo afirmou que não pretende fazer promoções na Black Friday este ano, pois as vendas não compensam a redução nas margens.
Uma executiva de uma fabricante de eletrodomésticos, falando anonimamente, revelou que os varejistas estão com estoques elevados e compraram pouco para a Black Friday. A indústria normalmente apoia as ações promocionais do varejo.
Marco Alcolezi, diretor de operações do Carrefour para os formatos hiper, super e express, disse em nota que o Carrefour continuará forte em todas as categorias na Black Friday, que é uma data importante para o consumidor economizar e comprar desde itens básicos até presentes e eletrônicos.
Incertezas para 2026
Apesar da mudança no foco entre Black Friday e Natal, os varejistas esperam um fim de ano animado, segundo Daniel Sakamoto. “Há muitas compras acumuladas no ano por causa das incertezas, e a expectativa é que o consumidor aproveite o último trimestre para compras.”
O varejo brasileiro abrirá 118 mil vagas para o fim do ano, um aumento de 7,3% em relação ao ano anterior, conforme pesquisa da CNDL e do SPC Brasil realizada entre 23 de junho e 16 de julho com 533 empresas de todas as regiões e portes.
Essas vagas incluem trabalho temporário, efetivo, informal e terceirizado.
Indicadores macroeconômicos também são favoráveis, como a menor taxa de desemprego desde 2012, 5,6%, segundo a Pnad Contínua do IBGE, e a taxa Selic que parou de subir e pode cair no início do próximo ano.
Dos empresários entrevistados, 59% disseram que não vão contratar para o fim do ano, percentual estável em relação a anos anteriores, mas a insegurança está maior em 2024.
Sakamoto destaca: “Não sabemos se o cenário econômico continuará positivo em 2026, que será ano eleitoral com disputa acirrada.”
Entre os que não vão contratar, 32% disseram que a razão é a instabilidade econômica, contra 12% em 2023.
“Boas notícias estimulam o consumo. Até o fim do ano, a expectativa é positiva. Mas o varejo investe quando percebe que o consumidor tem vontade de gastar. Se ele ficar preocupado com seu emprego ou negócio, vai gastar menos ou deixar de comprar.”