DANIELE MADUREIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Na manhã desta segunda-feira (15), o ministro do Desenvolvimento Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, conversou com Victor Novaes Raimundo, 19 anos, atendente de uma loja do McDonald’s em São Paulo, sobre seus sonhos. Victor expressou o desejo de ter sua própria casa, um carro, uma moto e uma família. Ao ser questionado se acredita que o trabalho é o caminho para alcançar esses objetivos, ele respondeu afirmativamente, destacando a importância de nunca desistir, mesmo diante das dificuldades.
Victor ganha R$ 1.467 por mês trabalhando no McDonald’s há um ano, em um turno das 15h30 às 23h30, com uma escala de seis dias de trabalho para um de descanso. Ele destaca que a empresa oferece oportunidades de crescimento para seus funcionários.
Ele participa do programa Acredita no Primeiro Passo, promovido pelo Ministério do Desenvolvimento Social, que oferece cursos de capacitação e apoio a quem busca emprego ou deseja abrir um negócio próprio.
Nesta mesma manhã, o ministério firmou uma parceria com o Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV) em São Paulo. Com essa colaboração, grandes redes de varejo poderão acessar informações do CadÚnico, que reúne famílias beneficiadas por programas sociais como o Bolsa Família, para oferecer vagas de emprego e programas de qualificação profissional. Os detalhes sobre o uso desses dados ainda serão definidos pelo ministério.
Essa iniciativa surge em um momento em que o setor varejista enfrenta dificuldades para preencher vagas, especialmente para funções básicas nas lojas. Uma pesquisa realizada pela PwC destacou que a principal preocupação dos líderes do setor é a falta de mão de obra qualificada.
No Brás e Bom Retiro, dois importantes centros comerciais de São Paulo, há cerca de 11 mil vagas abertas. Conforme Maurício Stainoff, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de São Paulo (CDL-SP), muitos jovens evitam trabalhar aos finais de semana, período essencial para o varejo.
O IDV procurou o ministério para entender melhor o Bolsa Família e identificar como atrair seus beneficiários para o mercado de trabalho. Segundo Jorge Gonçalves Filho, presidente do IDV, uma barreira para que esses trabalhadores aceitassem as vagas era o medo de perder o benefício ao conseguir emprego. No entanto, mudanças nas regras do programa, vigentes desde junho, facilitam essa transição.
Wellington Dias explica que atualmente, quem recebe até R$ 213 por pessoa da família mensalmente e continua abaixo da linha da pobreza pode manter o Bolsa Família. Aqueles que ganham entre R$ 213 e R$ 638 recebem metade do benefício, garantindo um apoio durante o período de adaptação ao emprego formal.
Essa medida visa garantir uma saída segura do Bolsa Família, especialmente para quem enfrentava dificuldades para achar trabalho, reforça Gonçalves Filho.
Antes, alguns associados do IDV já participavam do programa Acredita, como o Carrefour Brasil, que adotou a iniciativa em 2023. A empresa contratou cerca de 100 mil beneficiários do CadÚnico, superando a meta inicial de 10 mil pessoas em três anos. Os colaboradores atuam nas diversas bandeiras do grupo pelo país, em funções como operador de caixa, fiscal e repositor.
Além do Carrefour e McDonald’s, o Magazine Luiza e a RD Saúde (Raia e Drogasil) também aderiram ao programa.
Gonçalves Filho comenta que a dificuldade em atrair jovens para o varejo deve-se a vários fatores, como o crescimento do microempreendedorismo, trabalhos informais e o desejo de muitos em seguir carreiras digitais como influenciadores, o que pode gerar frustração a longo prazo.
Sobre a remuneração, ele destaca que muitas empresas falham ao explicar os benefícios do trabalho formal, como estabilidade, fundo de garantia, plano de saúde, férias, 13º salário e aposentadoria.
Embora o custo de um empregado registrado seja alto para as empresas, o investimento garante direitos e segurança ao trabalhador, ressalta o presidente do IDV.
Para flexibilizar a contratação, o IDV defende ajustes nos contratos CLT, como na escala de trabalho, para equilibrar a carga horária e a remuneração, possibilitando melhores condições tanto para empregados quanto para empregadores.