A prática de cultivar plantas dentro de casa, conhecida como banho de floresta indoor, está ganhando popularidade como um recurso para o bem-estar emocional, especialmente entre aqueles que vivem em grandes cidades.
Inspirada no conceito japonês do shinrin-yoku (banho de floresta), essa prática tenta reproduzir dentro do lar os efeitos restauradores proporcionados pelo contato com a natureza. O objetivo é transformar o ambiente doméstico em um espaço mais acolhedor, tranquilo e saudável.
Além de embelezar e trazer aconchego, o convívio diário com plantas pode promover mudanças reais no cérebro, influenciando positivamente a forma como lidamos com o estresse, a ansiedade e até com a produtividade.
Ambientes com muitas plantas naturais ajudam a aliviar o estresse, aumentar a concentração e criar uma sensação de refúgio emocional no cotidiano.
O impacto das plantas no sistema nervoso
Para o psicólogo André Sena, que atende no Rio de Janeiro, a presença do verde em ambientes fechados ativa respostas cerebrais que promovem relaxamento e sensação de bem-estar.
“As plantas criam um ambiente que reduz a sobrecarga cognitiva, possibilitando que a mente processe informações com maior clareza”, explica André.
Elementos naturais, como folhas e formas orgânicas, diminuem a atividade do sistema nervoso simpático — que está ligado ao estresse — e estimulam o sistema parassimpático, que favorece a calma.
Pesquisas em neurociência já comprovaram que até mesmo uma breve exposição visual à natureza pode reduzir os níveis de cortisol, hormônio relacionado ao estresse. O cérebro associa vegetação e formas naturais à segurança, uma resposta herdada de nossos antepassados, que procuravam abrigo e alimento na natureza.
Segundo o psicólogo Luti Christóforo, de Curitiba, essa crescente busca por ambientes verdes reflete uma necessidade psicológica de reconexão com o essencial.
“Trazer plantas para dentro do lar é, frequentemente, uma tentativa inconsciente de restaurar o equilíbrio emocional, reconectar-se com a vida orgânica, o silêncio e o ritmo mais lento e cíclico da natureza”, comenta Luti.
Essa prática também afeta diretamente a rotina mental. Atividades como regar, podar ou simplesmente observar uma planta auxiliam a interromper o fluxo de pensamentos ansiosos e melhoram a concentração.
“Essas ações funcionam como pontos de estabilidade emocional”, afirma o psicólogo. “Elas convidam a desacelerar, prestar atenção aos detalhes e desenvolver paciência”, acrescenta.
Principais benefícios do banho de floresta indoor
- Redução do estresse e da ansiedade;
- Melhoria da concentração e do foco;
- Estimulação da criatividade e da produtividade;
- Fortalecimento do senso de propósito e conexão;
- Regulação emocional e sensação de bem-estar.
Rotina emocional e vínculos simbólicos
Do ponto de vista da psicologia cognitivo-comportamental, cuidar de plantas também pode ser uma forma acessível de regulação emocional, pois o vínculo criado com as plantas pode ter valor simbólico e afetivo.
“Cuidar de uma planta representa oferecer amor, atenção e presença, elementos que às vezes podem ter faltado em experiências afetivas anteriores”, explica Luti Christóforo.
Ambientes com vegetação tendem ainda a estimular a criatividade e aumentar a produtividade. O verde, por si só, contribui para restaurar a atenção e aumentar a clareza mental, impactando positivamente o desempenho em tarefas cognitivas.
Os especialistas também ressaltam que o cuidado com as plantas não deve se tornar mais uma tarefa obrigatória. A relação deve ser leve e acolhedora, não uma obrigação diária adicional.
“O cuidado com as plantas precisa ser prazeroso, espontâneo e simbólico, não rígido ou perfeccionista”, enfatiza Luti. Para ele, transformar o lar em um refúgio verde deve ser um ato de gentileza, não mais uma meta a cumprir.