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quinta-feira, 21/11/2024
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Vai faltar comida? Guerra da Ucrânia faz preço de alimentos disparar

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Cotação do trigo já subiu mais de 50% e milho enfrenta aumentos da ordem de 20%; cresce temor de desabatecimento e escalada da inflação em países dependentes de importações

(Reuters/Eric Gaillard)

Produtos como vegetais, carne e óleo de cozinha nunca estiveram tão caros – pelo menos não nos últimos 32 anos, quando teve início a série histórica da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) sobre o preço dos alimentos. Em março, o índice bateu um recorde, alcançando uma média de 159,3 pontos, 17,9 a mais em relação a fevereiro. Os principais aumentos têm sido sentidos em relação ao trigo e aos cereais em geral, ao lado de proteína de origem animal. O primeiro baque atingiu principalmente a cotação do trigo, milho e outros grãos, em boa parte em função da guerra na Ucrânia e das sanções à Rússia.

A Ucrânia é responsável por 30% das exportações mundiais de trigo e 16% das do comércio internacional de milho. E, junto com a Rússia, responde por 27% das exportações globais de trigo, 18% de milho e 77% do óleo de girassol. Como consequência direta do conflito no Leste Europeu, o preço do trigo já subiu mais de 50% e o milho enfrenta aumentos de mais de 20%.

Não há perspectivas do fim ou redução da inflação desses alimentos, considerados produtos básicos, já que a guerra continua”, disse Carsten Fritsch, analista do Commerzbank, segundo maior banco comercial da Alemanha.

Junte-se a isso a crise dos fertilizantes, produzidos em larga escala pela Rússia, Ucrânia e Bielorrússia, e eis um cenário dramático. “Já há analistas discutindo a probabilidade de desabastecimento, embora isso ainda constitua um debate controverso”, afirma Marcos Jank, professor de Agronegócio Global do Insper e coordenador do centro Insper Agro Global. “De qualquer forma, é uma questão importante, já que apenas três cereais, o arroz, o trigo e o milho, respondem por mais de 40% da ingestão de calorias do mundo”.

A guerra na Ucrânia está prestes a entrar em seu segundo mês, sem sinal, por enquanto, de um acordo que ponha fim ao conflito. As sanções à Rússia, que envolvem restrições à realização de negócios com instituições e empresas russas, também não devem ser amenizadas tão cedo. “Muitas empresas, inclusive aquelas do setor de comércio exterior, acabando ficando temerosas de negociar com a Rússia em função de padrões de compliance”, diz Jank.

O risco de uma nova sanções também está no radar – a União Europeia e os Estados Unidos discutem o aumento da pressão sobre a Rússia no campo econômico. “Reforçaremos ainda mais nossas sanções contra a Rússia e intensificaremos a ajuda financeira à Ucrânia”, declarou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, na última terça, dia 19.

Enquanto isso, alguns dos países que mais dependem da importação de alimentos têm se tornado palcos de protestos contra a escalada da inflação. No Peru, caminhoneiros entraram em greve em razão da alta de 7% nos preços em março, recorde dos últimos 24 anos.

No Sri Lanka, a situação é ainda mais preocupante. Uma escassez generalizada de itens básicos como alimentos e combustíveis, que acontece em meio a uma crise econômica, levou milhares de pessoas às ruas. Nesta quarta, dia 20, o governo decretou toque de recolher após confrontos com a polícia causarem a morte de um manifestante. Os preços da gasolina subiram 65% nos últimos meses, refletindo, em parte, os aumentos internacionais do barril do petróleo em função da guerra na Ucrânia e das sanções impostas à Rússia, terceiro maior produtor mundial da commodity.

A inflação no país chegou a 19%, o maior índice da Ásia. Com apenas 2 bilhões de dólares de reserva e uma dívida externa de 7 bilhões de dólares, que corre o risco de não ser honrada, o país busca negociar um empréstimo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O Sri Lanka, pais de 22 milhões de habitantes vizinho à Índia, é altamente dependente de importações. Outras nações estão na mesma situação, entre eles Bangladesh, Paquistão e Nepal, na Ásia, além de boa parte do Oriente Médio.

No Paquistão, a inflação de dois dígitos é considerada um dos motivos responsáveis pela queda do primeiro-ministro Imram Khan, embora seus aliados sustentem que a recusa do governo em aceitar a instalação de bases americanas em seu território tenha constituído a razão principal pela instabilidade política. Khan também se reuniu recentemente com Vladimir Putin para tratar de acordos de cooperação sobre a construção de um gasoduto no Paquistão, um projeto incentivado pela Rússia, além de outros temas.

Para o Brasil, a perspectiva é de uma inflação ao redor de 6% até o final do ano, segundo projeções da consultoria Oxford Economics. Alimentos como a cenoura, com reajuste de 31,5% em março, e do tomate (aumento de 27,2%), aliado à elevação do custo dos combustíveis, têm liderado a fila da escalada de preços.

“O aumento do custo de vida, puxado pela inflação dos alimentos, em meio a um cenário de instabilidade geopolítica, pode deflagrar uma onda preocupante de turbulências nos países”, diz o economista Rabah Arezki, da Universidade de Harvard. “Isso é algo que precisa ser visto com cuidado porque é preocupante”.

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