Começa na próxima segunda-feira a imunização anual contra o H1N1, no mesmo momento em que o país está mobilizado para tomar as doses para combater o novo coronavírus. Preocupação de especialistas é com a desorganização, que pode causar atropelos e aglomerações
Enquanto o ritmo de vacinação contra a covid-19 começa a ser intensificado no Brasil, apesar das dificuldades, o Ministério da Saúde inicia, no próximo dia 12, a campanha anual de imunização contra a gripe. Especialistas ouvidos pelo Correio acreditam que a imunização contra o vírus H1N1 pode reduzir a sobrecarga do sistema de saúde — já que a gripe tem sintomas semelhantes aos da covid-19, que muitas vezes confundem pacientes e médicos —, mas preocupam-se com os desafios que podem surgir com a realização de duas grandes campanhas simultâneas.
A infectologista do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto Anna Christina Tojal acredita que a maior dificuldade que o país encontrará será organizar as pessoas para não causar aglomerações nos postos de saúde e nas salas de vacinação. “A grande dificuldade será organizar esse fluxo de gente. Nesse sentido, acho que seriam importantes as campanhas de esclarecimento, tentando organizar ou sugerir horários para as pessoas irem se vacinar, e disponibilizar postos externos para dar as injeções”, sugeriu.
Mesmo diante do cenário de caos por causa da alta transmissão do novo coronavírus, ela reforça a importância da realização da imunização contra a gripe, que é feita em dose única, em um momento de pandemia. “O que não pode é arriscar termos duas epidemias de vírus respiratórios. Cada município vai precisar pensar no seu jeito para otimizar e evitar as aglomerações”, explicou.
O infectologista da Dasa, Alberto Chebabo, assegura que o Brasil tem a expertise necessária para realizar as duas campanhas. “O desafio maior é ter a estrutura necessária de postos e pessoal para duas campanhas grandes, em um momento em que a imunização contra a covid-19 está sendo intensificada”, observou. A intensificação da distribuição de doses contra a covid-19 é natural, pois a oferta de fármacos contra o novo coronavírus está sendo ampliada no país.
Escalonamento
Como os grupos prioritários da vacinação da gripe e da covid-19 são similares, para evitar choques entre as campanhas, uma das ideias do Ministério da Saúde é não vacinar contra a gripe os idosos nesse primeiro momento, uma vez que quem tem mais de 60 anos está sendo imunizado contra o novo coronavírus. A vacinação contra o H1N1 será feita de forma escalonada e os grupos prioritários serão divididos em três etapas. Assim, aqueles com 60 anos ou mais só receberão a dose da gripe na segunda etapa, junto com os professores, entre 11 de maio e 8 de junho.
Na primeira fase, que ocorre entre 12 de abril e 10 de maio, crianças de seis meses a menores de seis anos de idade, gestantes, puérperas, povos indígenas e trabalhadores da saúde serão vacinados. Já na última etapa, que vai de 9 de junho até 9 de julho, o restante da população incluída no grupo prioritário é que será imunizado. Dessa forma, o Ministério da Saúde pretende distribuir as doses de pelo menos 90% do público-alvo da vacinação contra a gripe, estimado em 79,7 milhões de brasileiros, até 9 de julho.
“Seria muito complicado, neste momento, pegar os idosos, que estão se vacinando contra a covid, e colocar eles na campanha contra a influenza. Até porque você precisa ter um intervalo de pelo menos 14 dias entre as doses dos imunizantes da gripe e da covid-19”, ressalta Chebabo.
O ministério não recomenda a aplicação dos dois medicamentos simultaneamente, pois não existem estudos sobre a coadministração dos imunizantes.
A orientação da pasta é priorizar a imunização contra o covid-19, caso a pessoa esteja incluída nos dois grupos prioritários e possa receber ambas as doses. Nota do ministério salienta que quem faz parte do grupo prioritário para a vacinação contra influenza, e que ainda não foi vacinada contra o novo coronavírus, “deve ser priorizada a dose contra a covid-19 e agendada a contra a Influenza, respeitando um intervalo mínimo de 14 dias entre elas”.
Segundo o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, 25,5 milhões de imunizantes contra a covid-19 estarão disponíveis para a população este mês. Ontem, o Instituto Butantan liberou mais um milhão de doses da CoronaVac e, até o final de abril, entregará mais 8,8 milhões de doses ao Programa Nacional de Imunização (PNI), totalizando 46 milhões de injeções. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também entregará 18,4 milhões de doses da vacina da Covishield.