ANA BOTTALLO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Um estudo recente avaliou o efeito de uma única dose da vacina bivalente contra HPV, que protege contra os tipos 16 e 18 do vírus, em meninas de 9 a 14 anos. Este resultado foi comparado com o efeito da aplicação completa de três doses da vacina quadrivalente, que protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18, em mulheres de 18 a 25 anos. A pesquisa mostrou que, para o tipo 18 do vírus, a proteção com a dose única foi semelhante à das três doses. No entanto, para o tipo 16, que é o principal causador de câncer, a dose única não ofereceu a mesma proteção.
A taxa de pessoas que mantiveram anticorpos após 36 meses da vacinação foi quase 100%, e até maior em meninas que receberam uma única dose (98,9%) comparado com 96% em mulheres que receberam três doses. Isso mostra que ambos os esquemas de vacinação geram uma boa resposta do sistema imunológico. No entanto, a menor proteção do subtipo 16 com a dose única sugere que doses extras podem ser necessárias para garantir proteção total contra esse tipo do vírus.
Os dados são de artigo publicado online na edição de dezembro da revista The Lancet Infectious Diseases.
Desde 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a vacinação contra o HPV com dose única para aumentar a adesão, especialmente em países com baixa renda, onde a vacinação enfrenta obstáculos.
No estudo, foram analisadas amostras de sangue de 539 meninas e 366 mulheres sem infecção prévia pelo HPV tipo 16, e de 523 meninas e 373 mulheres sem infecção prévia pelo tipo 18. As amostras foram coletadas antes e após a vacinação, em várias etapas até 36 meses depois.
A proteção foi avaliada pela concentração média de anticorpos, considerada igual ou melhor quando a concentração da dose única fosse pelo menos 67% daquela das três doses.
Para o tipo 18, a dose única apresentou concentrações iguais ou superiores no período analisado. Porém, para o tipo 16, as concentrações foram cerca de metade daquelas observadas com o esquema de três doses, indicando menor proteção.
Depois do estudo, novas análises com meninas vacinadas segundo o programa nacional da Costa Rica mostraram concentrações semelhantes de anticorpos entre meninas e mulheres vacinadas com dose única, sugerindo que a diferença de proteção pode não ser tão grande em alguns casos.
Os pesquisadores, incluindo especialistas da Costa Rica e dos Estados Unidos, ressaltam que os dados ainda são incertos. Faltam estudos mais rigorosos para determinar a quantidade ideal de anticorpos para proteção contra o tipo 16 em meninas. Outra hipótese é que a proteção possa variar conforme a idade, já que mulheres adultas podem ter contato repetido com o vírus, fortalecendo sua defesa imunológica.
Por enquanto, a recomendação da OMS permanece, principalmente em regiões onde o acesso à vacinação é difícil. Novos estudos são necessários para guiar futuras recomendações nacionais, incluindo monitoramento dos tipos de HPV e outras medidas preventivas.
Em 2023, o Ministério da Saúde do Brasil passou a oferecer a vacina em dose única para meninas e meninos de 9 a 14 anos e para outros grupos de risco. A vacina disponível no SUS é produzida pelo Instituto Butantan e protege contra os quatro tipos do vírus (6, 11, 16 e 18).
Em 2024, a adesão à primeira e segunda dose entre meninas foi de 95,36% e 79,75%, respectivamente. Já entre meninos, os índices foram menores, com 68,69% para a primeira dose e 51,57% para a segunda, segundo dados da plataforma VacinaBR em parceria com o Instituto Questão de Ciência.
