GIULIA PERUZZO
FOLHAPRESS
Pesquisadores da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) e do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York, criaram uma vacina que mostrou resultados promissores para impedir que os cânceres de pâncreas e intestino se espalhem em pacientes que já passaram pelo tratamento principal.
A pesquisa, publicada na revista Nature Medicine, apresentou os dados da primeira fase dos estudos clínicos, sendo um estudo inicial que requer mais etapas para confirmar sua segurança e eficácia.
Especialistas consultados consideram o resultado animador.
A vacina, chamada ELI-002 2P, ajuda o sistema imunológico a combater duas mutações chamadas KRAS (G12R e G12D), comuns em vários tipos de câncer, incluindo os de pâncreas e intestino. A proteína KRAS é a mais frequente entre as mutações da família RAS, aparecendo em cerca de um quarto dos pacientes com câncer.
Samuel Aguiar, oncologista do A.C. Camargo Cancer Center que não participou do estudo, explicou que a mutação KRAS está ligada ao crescimento do tumor e à formação de metástases.
“Eles escolheram a KRAS porque é uma via muito comum nesses tumores. Quanto mais comum o alvo, mais fácil de acertar. A estratégia foi focar em um alvo específico, mas que aparece frequentemente nesses dois tipos de câncer.”
No estudo, 25 pacientes participaram — 20 com câncer de pâncreas e cinco com câncer colorretal — todos já tratados e apresentando sinais mínimos do câncer após o tratamento padrão, que inclui cirurgia, quimioterapia ou radioterapia.
Thaís Moré Milan, doutoranda da USP em Ribeirão Preto, que pesquisou câncer na UCLA e também não participou do estudo, destacou que a vacina é projetada para alcançar os linfonodos, locais onde o câncer pode se espalhar. Ela explicou que o peptídeo da vacina se liga quimicamente a uma molécula lipídica que, por sua vez, se conecta à albumina, uma proteína que circula no corpo e transporta a vacina diretamente para os linfonodos.
Samuel Aguiar complementou: “O objetivo é treinar as células imunológicas para combater tumores nos linfonodos, em outros órgãos ou em todo o corpo.”
Os pesquisadores também adicionaram um componente à vacina que aumenta a resposta do sistema imunológico, estimulando as células T, que defendem o corpo contra doenças.
Os resultados mostraram que 21 dos 25 pacientes (84%) apresentaram resposta das células T específicas para a mutação KRAS, e os marcadores do tumor foram reduzidos significativamente. Em 24% dos pacientes, os marcadores desapareceram completamente.
Além disso, a sobrevivência dos pacientes aumentou, e a maioria não teve retorno da doença durante o período do estudo.
No acompanhamento de até dois anos após a primeira dose, 17 pacientes (68%) tiveram resposta aumentada das células T, enquanto 8 (32%) não tiveram a resposta esperada; destes últimos, sete faleceram.
Em 67% dos pacientes, a vacina fez as células T responderem contra outros antígenos do tumor, aumentando a eficácia do tratamento.
Apesar das limitações, como o número pequeno de participantes e o curto período de acompanhamento, especialistas veem o estudo como um avanço importante e uma base para futuras pesquisas com mais pacientes e acompanhamento mais longo.
Samuel Aguiar avaliou que o estudo é um passo crucial para desenvolver novos tipos de vacinas contra mutações, abrindo caminho para outras terapias.
Atualmente, os pesquisadores trabalham em um estudo de fase 2 com uma nova versão da vacina, que visa sete variações da mutação KRAS. A pesquisa é financiada pelo laboratório Elicio Therapeutics.