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terça-feira, 04/11/2025




Uso prolongado de melatonina pode elevar o risco de problemas no coração, aponta pesquisa

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LUÍSA MONTE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Tomar melatonina por bastante tempo pode aumentar as chances de ter insuficiência cardíaca, necessidade de internação hospitalar e até a morte em quem sofre de insônia crônica, mostrou uma pesquisa inicial apresentada nesta segunda-feira (3) no congresso anual da American Heart Association.

A melatonina é um hormônio que o nosso corpo produz naturalmente para avisar que está escuro, ajudando a iniciar o sono. Muitas pessoas usam suplementos com melatonina — feitos em laboratório, mas iguais ao hormônio natural — para dormir melhor quando têm dificuldades.

Esses suplementos podem ser comprados sem receita em vários países, como Brasil e Estados Unidos. Contudo, os dados recentes levantam dúvidas sobre sua segurança para o coração quando usados por muito tempo.

Ekenedilichukwu Nnadi, autor principal do estudo, alerta: “Suplementos de melatonina talvez não sejam tão inofensivos quanto muitos pensam. Se nosso estudo for confirmado, isso pode mudar como os médicos recomendam esses remédios para dormir”.

Os pesquisadores analisaram dados de 130.828 adultos com insônia crônica cadastrados no banco internacional TriNetX. Eles foram divididos em dois grupos para comparação.

O ‘grupo melatonina’ usou o hormônio por um ano ou mais, enquanto o ‘grupo sem melatonina’ nunca fez uso registrado do suplemento. Pessoas com diagnósticos prévios de insuficiência cardíaca ou que tomavam outros remédios para dormir foram excluídas do estudo.

Os resultados mostraram que quem usou melatonina por bastante tempo teve 90% mais risco de desenvolver insuficiência cardíaca em cinco anos (4,6% contra 2,7%). Em locais onde a melatonina só é vendida com receita, como Reino Unido, o risco foi 82% maior para quem recebeu ao menos duas prescrições com intervalo de 90 dias.

A chance de ser hospitalizado por insuficiência cardíaca foi três vezes maior nos usuários de melatonina (19% em comparação a 6,6%). Além disso, a mortalidade por qualquer causa foi quase o dobro no grupo que usou melatonina (7,8% contra 4,3%) durante o período estudado.

Embora o estudo tenha encontrado essa relação, ele não prova que a melatonina cause diretamente esses problemas. Mais pesquisas são necessárias para entender a segurança do hormônio para o coração, segundo Nnadi.

O estudo também tem limitações. Os dados vêm de países onde a melatonina é vendida com ou sem receita. Então, pessoas que tomam o suplemento sem receita podem não ter sido incluídas corretamente, o que pode afetar os resultados.

Nnadi destaca que a conclusão não é proibir a melatonina, mas alertar que nem tudo que é natural ou vendido sem prescrição médica é livre de riscos.

É seguro usar melatonina?

Lucio Huebra, neurologista da Academia Brasileira do Sono, explica que a melatonina normalmente é bem aceita pelo organismo, com poucos efeitos colaterais, e não causa dependência.

Os efeitos adversos mais comuns incluem:

  • Sonolência pela manhã
  • Tontura
  • Dor de cabeça
  • Náusea
  • Alteração no ritmo natural do sono, especialmente se tomada em horários errados

O uso da melatonina não é indicado para todos, já que a maioria das pessoas produz o hormônio normalmente. Ela é recomendada para casos como:

  • Distúrbios do ritmo do sono, como atraso na hora de dormir
  • Descompensação de fuso horário, conhecida como jet lag
  • Irregularidade do ritmo do sono em pessoas cegas
  • Alguns problemas com movimentos durante o sono, como o transtorno comportamental do sono REM

No Brasil, a melatonina não é o tratamento inicial para insônia crônica. A recomendação da Academia Brasileira do Sono e outras entidades internacionais é começar com mudanças nos hábitos de sono e terapias psicológicas. Se necessário, usar medicamentos para dormir por pouco tempo e na menor dose possível, de acordo com Huebra.




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