O conflito entre o Congresso e o governo federal a respeito do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) gerou uma nova batalha de informações nas redes sociais. Segundo pesquisa da Genial Quaest divulgada em 4 de julho, o Congresso é o foco de 61% das críticas negativas sobre o tema, enquanto o governo representa 11%. Outros 28% das menções são neutras.
Os “armamentos” nessa disputa digital são vídeos produzidos por inteligência artificial (IA). O Partido dos Trabalhadores (PT) usou esses vídeos para mostrar a desigualdade na tributação entre a população pobre e os super ricos. Em um dos vídeos, trabalhadores e empresários aparecem em uma balança para ilustrar como os pobres acabam pagando mais impostos. O slogan usado foi: Taxação BBB: Bilionários, Bancos e Bets.
Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, estão no centro da discussão pública que permeia esse assunto.
A inteligência artificial já é uma realidade na política e deverá ser inevitavelmente usada nas próximas eleições, conforme avaliação de Magno Karl, cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor executivo do Livres. Ele destaca a dificuldade de regulamentar seu uso mesmo com decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), principalmente porque muitos cidadãos também propagam conteúdos individualmente nas redes sociais.
Magno Karl aponta que a comunicação política está cada vez mais fragmentada, dificultando o controle e que uma atuação educativa para que os eleitores apliquem ceticismo quanto aos conteúdos da internet será muito importante.
Conflito entre Congresso e governo
A pesquisa da Quaest mostra que o Congresso tem sido o foco principal das críticas, especialmente após os parlamentares terem derrubado um decreto presidencial do Lula relacionado ao IOF. Das publicações analisadas, 61% eram negativas ao Congresso, 28% neutras e 11% positivas ou em defesa do governo.
O levantamento abrangeu 4,4 milhões de publicações entre 24 de junho e 4 de julho, em redes como Twitter (X), Instagram, Facebook, Reddit, Tumblr, YouTube e outros sites de notícias.
Regulamentação do uso de IA
Para as eleições municipais de 2024, o TSE regulamentou o emprego de IA em propaganda eleitoral, proibindo deepfakes e determinando avisos obrigatórios sobre o uso de IA, além de exigir responsabilidade das plataformas digitais em remover conteúdos nocivos.
João Ataide, especialista em IA e direito regulatório pela Universidade de Brasília (UnB), avalia que a crise do IOF é um indicativo do que pode ocorrer nas eleições de 2026, com vídeos falsos produzidos por IA mais realistas e difíceis de identificar.
João Ataide reconhece os esforços regulatórios, mas ressalta a dificuldade da justiça em agir rapidamente diante da rápida disseminação de desinformação na internet, o que cria um cenário desafiador para o combate a falsas informações.
Avanço da inteligência artificial
Vídeos com inteligência artificial têm viralizado nas redes, gerando confusão entre os usuários. A tecnologia Veo 3 do Google permite vídeos altamente realistas com efeitos sonoros e diálogos gerados conforme a solicitação.
Segundo o cientista político Nauê Bernardo Azevedo, há um risco real de que o público seja enganado devido à dificuldade crescente em distinguir o que é real do que é fabricado. Ele defende que as redes sociais precisam rotular adequadamente esse tipo de conteúdo para proteger eleitores contra erros.
Nauê Bernardo Azevedo alerta que a tendência é o aprimoramento contínuo dessas ferramentas, que poderão ser usadas para transmitir mensagens de forma mais direta e emocional. Ele enfatiza a necessidade de ações firmes dos órgãos competentes para inibir o mau uso dessas tecnologias.