29.2 C
Brasília
domingo, 28/12/2025

Universidades irão envolver favelas em estudo sobre mudanças do clima

Brasília
nuvens dispersas
29.2 ° C
30 °
29.2 °
63 %
2.7kmh
27 %
dom
29 °
seg
30 °
ter
29 °
qua
29 °
qui
29 °

Em Brasília

Três universidades do Brasil, em colaboração com a Universidade de Glasgow no Reino Unido, vão realizar uma pesquisa para encontrar maneiras de diminuir os efeitos das mudanças climáticas nas favelas brasileiras. O estudo, que vai até 2027, vai focar em comunidades de Natal (RN), Curitiba (PR) e Niterói (RJ). A partir de janeiro de 2026, um edital será lançado para oferecer bolsas de pesquisa que permitirão a participação direta dos moradores dessas áreas.

O projeto chamado Pacha, sigla em inglês para Análise Participativa para Adaptação Climática e Saúde em Comunidades Urbanas Desfavorecidas no Brasil, é liderado pelo cientista brasileiro João Porto de Albuquerque, diretor do Urban Big Data Centre da Universidade de Glasgow. O financiamento, superior a R$ 14 milhões, vem da fundação britânica Wellcome Trust, que apoia pesquisas em saúde e mudanças climáticas.

As universidades brasileiras parceiras são a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), por meio do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana (PPGTU); a Fundação Getulio Vargas, através do Departamento de Tecnologia e Ciência de Dados da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP); e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Em entrevista à Agência Brasil, Paulo Nascimento, coordenador do PPGTU da PUCPR, ressaltou que todas as cidades brasileiras precisam fazer planos para adaptar e reduzir os impactos das mudanças climáticas. Porém, esses planos geralmente não consideram as favelas, pois os dados usados refletem mais as áreas urbanas formais.

O esforço do projeto é criar uma base de dados coletada com a ajuda dos moradores dessas comunidades para gerar informações que possam melhorar esses planos de ação climática, oferecendo uma nova perspectiva.

O estudo considerará diferentes contextos climáticos ao analisar as três cidades, buscando entender como as comunidades lidam com esses desafios e quais soluções já desenvolvem. A participação dos moradores será essencial para a produção dos indicadores que guiarão a pesquisa.

Pesquisa Comunitária

Paulo Nascimento destacou que favelas geralmente são vistas pelo que lhes falta, mas o projeto busca aprender diretamente com os moradores sobre os principais problemas enfrentados, adotando uma abordagem colaborativa.

O projeto oferecerá bolsas para doutorado, pós-doutorado e para moradores das comunidades, que serão pesquisadores locais financiados pela entidade britânica. Isso garantirá que o projeto seja construído de forma coletiva e que o conhecimento permaneça nas comunidades mesmo após o término da pesquisa.

Entre o final de janeiro e início de fevereiro de 2026, será lançado edital para moradores de favelas interessados em participar como pesquisadores nos locais de estudo.

A proposta é que esses pesquisadores possam envolver suas comunidades e disseminar os resultados do projeto, garantindo que o conhecimento adquirido permaneça disponível localmente.

Desigualdade

Dados do IBGE de 2022 indicam que existem mais de 12 mil favelas no Brasil, com cerca de 16,39 milhões de habitantes, representando 8,1% da população total do país. Essas pessoas são as mais afetadas pelos efeitos das mudanças climáticas, como enchentes, deslizamentos e ondas de calor, vivendo em condições precárias e sem infraestrutura adequada.

O projeto conta também com o apoio da Fundação Oswaldo Cruz, por meio do Centro de Integração de Dados em Saúde (CIDACS/Fiocruz), que vai analisar dados do CadÚnico considerando raça, renda, gênero e idade. Isso permitirá entender como diferentes grupos dentro das favelas estão expostos a riscos climáticos variados.

A abordagem do projeto é construir conhecimento de baixo para cima, fortalecendo as capacidades das comunidades para que os resultados sejam relevantes tanto localmente quanto para todas as favelas do país.

O Pacha produzirá dados para ajudar a formular políticas públicas que considerem as desigualdades sociais e ambientais, construindo diagnósticos e indicadores junto às comunidades. O resultado final da pesquisa está previsto para ser divulgado no fim de 2027.

Lançamento

Em dezembro, pesquisadores das universidades brasileiras se reuniram em Natal com representantes da Universidade de Glasgow, da Secretaria Nacional de Periferias, do Ministério das Cidades, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e das comunidades locais envolvidas.

Durante a semana, o desenho da pesquisa foi discutido amplamente, sendo feita a inauguração oficial do projeto no Rio Grande do Norte.

Paulo Nascimento informou que a cada seis meses serão realizados encontros em uma das três cidades para apresentar os resultados parciais à comunidade.

Informações fornecidas pela Agência Brasil.

Veja Também