Neste sábado (6/9) marca um mês desde que Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, impôs tarifas unilaterais de 50% sobre exportações brasileiras, incluindo carne bovina e café. Em abril, o Brasil já enfrentava uma sobretaxa de 10% e, no início de julho, Trump anunciou um acréscimo de tarifas em 40%.
Desde o anúncio realizado via redes sociais em julho, o governo brasileiro tem buscado diálogo com a Casa Branca para negociar termos mais favoráveis, porém sem retorno até o momento. Segundo o governo norte-americano, essas taxas visam reduzir o déficit comercial com o Brasil, o que não corresponde à realidade, visto que os EUA apresentam superávit na balança comercial, ou seja, vendem mais ao Brasil do que compram.
Essa estratégia tarifária unilateral é interpretada por especialistas como parte de uma política imperialista adotada por Trump. Desde o início do seu mandato, em fevereiro, ele aplicou tarifas de 25% sobre aço e alumínio, que foram elevadas para 50% em abril. Outros países, como Índia, também sofreram tarifas similares.
Impactos após um mês
Dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MIDC) indicam uma redução de 18,5% nas exportações brasileiras para os EUA em agosto, mês da implementação das tarifas. Apesar disso, os Estados Unidos permaneceram como segundo maior destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China, e mantiveram superávit comercial com o Brasil, apresentando saldo positivo de US$ 1,2 bilhão.
Herlon Brandão, diretor de Estatísticas e Estudos de Comércio Exterior, destaca que a queda nas exportações não pode ser atribuída exclusivamente ao tarifaço, já que vários fatores influenciam essa movimentação. Ele ressalta que a antecipação das exportações em julho, antes do anúncio das tarifas, também influenciou os números.
Além disso, a análise mostra que o comércio pode diminuir, mas o impacto exato dependerá do comportamento do consumidor americano quanto ao preço que estará disposto a pagar.
Redirecionamento das exportações
Sara Paixão, analista de Macroeconomia da InvestSmart XP, aponta que alguns produtos brasileiros foram realocados para outros mercados, registrando crescimento nas exportações para a China (31%) e México (43,8%). Esse comportamento reflete uma adaptação, similar ao ocorrido em 2018, quando a aplicação inicial de tarifas norte-americanas motivou uma mudança nas parcerias comerciais.
Confiança dos empresários
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) das indústrias exportadoras caiu de 50,2 para 45,6 pontos entre junho e agosto, passando de um estado de confiança para desconfiança. O ICEI é medido numa escala de 0 a 100, onde acima de 50 indica confiança e abaixo aponta falta dela.
O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, estimou que até 320 mil empregos podem ser ameaçados caso os impactos do tarifaço avancem em toda a cadeia produtiva.
Plano Brasil Soberano
Em resposta às tarifas, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou uma medida provisória de apoio às empresas exportadoras afetadas, denominada Plano Brasil Soberano. A medida prioriza ações voltadas aos pequenos exportadores, incluindo:
- Compras governamentais: Estados poderão adquirir itens perecíveis inicialmente destinados aos EUA para alimentar programas sociais, como merendas escolares e restaurantes comunitários.
- Linhas de crédito: Disponibilização de R$ 30 bilhões em crédito subsidiado para as companhias mais prejudicadas.
- Ampliação do programa Reintegra: Estendido para todas as empresas exportadoras, permitindo a restituição de impostos pagos na cadeia produtiva.
- Ampliação do regime de drawback: Prorrogação da suspensão de tributos sobre insumos utilizados na fabricação de produtos exportados.
Negociações com os EUA
Apesar das tentativas brasileiras, o governo Trump não demonstra interesse em dialogar. Segundo integrantes da administração do presidente Lula, integrantes da extrema direita brasileira, entre eles o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), têm dificultado as tratativas entre os países.
Eduardo Bolsonaro, que está nos EUA, declarou intenção de impedir o diálogo. Um exemplo disso foi o cancelamento de uma reunião entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, após encontros políticos relacionados.
As tarifas sobre o Brasil possuem natureza política, destacada pelo fato de Trump mencionar o ex-presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais e documentos oficiais. Bolsonaro enfrenta processo no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado, o que teria motivado a Casa Branca a sancionar as tarifas unilateralmente.
Sanções a ministros brasileiros
Em julho, a Casa Branca aplicou a Lei Magnitsky contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, alegando repressão à liberdade de expressão e detenções arbitrárias, citando o ex-presidente Bolsonaro. A lei prevê restrições financeiras para pessoas sob sanção.
Em resposta, o ministro Flávio Dino, colega de Moraes, determinou que decisões externas só terão validade no Brasil se aprovadas por autoridades brasileiras, em tentativa de proteger o ministro.
Porém, a medida gerou impasse com bancos americanos, criando incertezas sobre a aplicação das sanções e movimentando o mercado financeiro brasileiro.