DANIELE MADUREIRA
FOLHAPRESS
Sidney Oliveira, preso na última terça-feira (12) na operação Ícaro que investiga corrupção envolvendo empresas e a Secretaria da Fazenda de São Paulo, lidera a Ultrafarma, empresa que ainda não representa ameaça significativa às maiores redes de farmácias do país.
Fundada em 2000, a Ultrafarma tem apenas sete lojas físicas na zona sul de São Paulo, focando a maior parte de suas vendas no comércio eletrônico, especialmente em medicamentos genéricos e similares, além de vitaminas sob a marca do próprio Sidney Oliveira.
Medicamentos genéricos representam entre 20% e 23% das vendas nas grandes farmácias, com remédios de referência dominando cerca de 70% do mercado. Já os similares têm uma participação entre 7% e 10%.
O faturamento da Ultrafarma não é divulgado publicamente, mas fontes do setor estimam cerca de R$ 3 bilhões, valor inferior à receita da quarta maior rede, a Farmácias São João, que tem mais de 1.200 lojas e faturou R$ 8 bilhões em 2024. A Panvel, em quinto lugar, faturou R$ 5,3 bilhões com mais de 630 unidades.
A líder RD Saúde, que reúne as bandeiras Drogasil e Droga Raia, faturou R$ 41,8 bilhões em 2024, contando com 3.230 lojas pelo Brasil. Só as vendas online da RD Saúde somaram R$ 7,1 bilhões, superando a Ultrafarma em todos os aspectos apesar da sua autoproclamada liderança no comércio farmacêutico digital.
A Ultrafarma não respondeu à reportagem até o fechamento do texto. Além das lojas próprias e da venda pela internet, a empresa licencia estabelecimentos com a marca Ultrafarma Popular desde 2020 e opera a franquia Óticas Ultrafarma desde 2018, além de um comércio eletrônico para produtos pet.
Em termos de investimento em publicidade, a Ultrafarma supera diversas redes varejistas do país, investindo R$ 827,2 milhões em anúncios em 2024, conforme dados do Kantar Ibope Media. Isso colocou a empresa na 8ª posição entre os maiores anunciantes nacionais, à frente de varejistas como Magazine Luiza.
Uma campanha recente utilizou um avatar do empresário Sidney Oliveira, buscando transmitir confiança ao consumidor em um mercado competitivo e dominado por empresas com longa tradição.
Apesar do destaque publicitário, a estrutura financeira da Ultrafarma parece desafiadora considerando margens típicas do setor: um investimento tão alto em mídia é incompatível com faturamento e margens estimados para a empresa.
Além disso, descontos elevados anunciados pela Ultrafarma não refletem práticas comuns do setor, onde os preços são negociados com a indústria farmacêutica e mantêm pouca variação entre as redes. A diferenciação agora está na oferta de serviços adicionais, como exames e vacinação.
O setor farmacêutico segue concentrado nas grandes redes nacionais, que detêm quase metade do mercado em receita, embora o número de lojas seja ainda bastante pulverizado. A Ultrafarma nunca fez parte da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), que representa as maiores redes do país.
Sergio Mena Barreto, presidente da Abrafarma, declarou que a operação Ícaro ocorre em um momento emblemático, próximo à entrada em vigor da reforma tributária, que eliminará a substituição tributária, prática associada às fraudes investigadas, e destacou a importância da transparência nas atividades das associadas.