20.5 C
Brasília
segunda-feira, 25/11/2024
--Publicidade--

UE colherá o que os EUA semeiam? Sanções e hiperliberalismo ocidental agravam miséria

Brasília
nuvens quebradas
20.5 ° C
20.5 °
19.2 °
94 %
1kmh
75 %
seg
22 °
ter
24 °
qua
25 °
qui
25 °
sex
20 °

Em Brasília

No mês passado, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) alertou que a crise da Ucrânia e as restrições ocidentais às exportações russas de alimentos e fertilizantes exacerbaram o impacto das questões de segurança alimentar.

© Marcello Casal/Agência Brasil
Quem se beneficiará da emergência alimentar no mundo? O ministro russo da Agricultura, Dmitry Patrushev, ponderou sobre a questão da segurança alimentar global nesta sexta-feira (5), alertando que uma “crise de proporções planetárias está tomando forma”.

“A situação nos mercados globais é difícil, especialmente para o trigo. Nesta temporada, devido a uma série de fatores, incluindo a seca nos EUA e na Europa, inundações na Austrália e mau tempo na Índia, a oferta global de trigo moído cairá. Além disso, devido às anomalias climáticas, espera-se uma diminuição da qualidade do trigo na América do Norte. Tudo isso, juntamente com restrições logísticas, pode levar a sérios riscos em termos de segurança alimentar global no ano agrícola atual”, disse ele.

Patrushev compartilhou uma atualização sobre a colheita do Estado da Rússia, dizendo que cerca de 27% dos campos foram cultivados, com 55 milhões de toneladas de grãos coletadas. O indicador é considerado bom, mas abaixo dos rendimentos mostrados há um ano, graças a uma primavera fria e problemas com a obtenção de peças para equipamentos agrícolas de fabricação estrangeira.

Sanções ocidentais, consequências globais

Os Estados Unidos e a Europa aplicaram nos últimos seis meses diversas sanções à Rússia depois que ela iniciou sua operação militar especial na Ucrânia. Enquanto os EUA e seus aliados lançaram restrições contra Moscou, nem um único país na América Latina, África ou Oriente Médio se juntou a eles até agora.
A busca mundial em desenvolvimento pela segurança alimentar, e o status da Rússia como um grande exportador global de grãos e fertilizantes, é, sem dúvida, um fator importante nos cálculos feitos pelos líderes regionais quando se trata de sanções. O chefe da União Africana e presidente senegalês, Macky Sall, falou sobre o problema em junho.

Segundo ele, as sanções “agravaram a situação com o fornecimento de grãos e fertilizantes para países africanos”, e desencadearam “uma séria ameaça à segurança alimentar” para o continente.

As sanções impostas à Rússia na primavera de 2022, que incluíram restrições diretas às exportações de alimentos e fertilizantes, além de esforços para limitar o comércio da Rússia em commodities agrícolas com países terceiros através das chamadas sanções secundárias a navios de carga ou provedores de seguros, já tiveram um impacto notável na segurança alimentar.
No início deste ano, a mídia alemã denunciou que os agricultores do país perderam quase três milhões de toneladas da produção agrícola em razão das sanções. Em junho, o jornal Bild relatou que quase um em cada seis alemães é forçado a pular refeições graças aos aumentos fora de controle nos preços dos alimentos. Na Polônia, assim como na Itália, em meio a escassez de trigo, farinha e massa, a inflação disparou.
As regiões inseguras de alimentos do planeta se saíram ainda pior. De acordo com uma estimativa recente da agência internacional de ajuda Mercy Corps, os preços da farinha no Líbano, que depende da Rússia e da Ucrânia para mais de 80% de suas necessidades de flores de trigo, saltaram mais de 200% desde a escalada da crise da Ucrânia.
Para muitos países, a emergência ucraniana só serviu para exacerbar uma série de problemas já existentes. No Marrocos, por exemplo, o ministro da Agricultura, Mohammed Sadiki, informou na primavera que o país espera perder até 53% de sua safra de grãos este ano devido à pior seca da década. Na Etiópia, Somália e Quênia, mais de 18 milhões de pessoas enfrentam fome.
A América Latina também não passou imune à crise. A inflação dos alimentos ameaça causar uma onda migratória de proporções bíblicas em meio a cálculos de que cerca de 14 milhões de pessoas, em 13 países, estão ameaçadas de insegurança alimentar “extrema”.

Faltam alimentos no mundo

No mês passado, no esteio da assinatura do acordo de grãos entre Rússia e Ucrânia, o Tesouro dos EUA inverteu o curso sobre uma série de diretivas de sanções alimentares e fertilizantes, “esclarecendo” em uma ficha técnica que não ameaçaria mais restrições secundárias para a compra ou transporte de commodities agrícolas russas.
A escassez de alimentos tem sido um fator que impulsiona revoluções, golpes, guerras e agitação civil ao longo da história humana, e tem sido usada habilmente por manipuladores estrangeiros para desencadear crises e instituir mudanças de regime ao longo dos séculos.
A insegurança alimentar foi um fator crítico na chamada agitação da “Primavera Árabe”, que varreu todo o Oriente Médio e norte da África no início de 2010. Essa crise, juntamente com as intervenções militares dos EUA e da OTAN no Iraque e no Afeganistão, ajudou a desencadear a onda europeia de migrantes de 2015.

“A crise alimentar deve-se principalmente às políticas predatórias realizadas – nas últimas décadas – pelo chamado sistema ocidental nos diferentes cantos do mundo. As políticas hiperliberais-democráticas do Ocidente têm favorecido os grandes grupos de interesse globalistas”, comentou.

Segundo ele, “organizações não estatais, como as Nações Unidas (ONU), além de bons discursos, não conseguiram encontrar soluções adequadas para o problema. O mundo como um todo poderia encontrar soluções. Apenas um novo sistema multipolar que adote, tanto em questões econômicas quanto políticas internacionais, uma prática solidária e cooperativa, antitética ao hiperliberismo atual, poderia nos salvar”, ressaltou Graziani.
“O interesse dos Estados Unidos é manter a hegemonia global. Isso também pode envolver o sacrifício de nações como a Ucrânia ou a Europa. No contexto da estratégia norte-americana, estes seriam ‘efeitos colaterais’. A situação interna da UE pioraria ainda mais: a Europa como um todo se tornaria ainda mais fraca e mais dependente dos EUA do que atualmente”, concluiu ele.
--Publicidade--

Veja Também

- Publicidade -