Em meio ao conflito com a Rússia, a Ucrânia enfrenta um novo escândalo de corrupção de grande magnitude no setor energético, que abalou o governo do presidente Volodymyr Zelensky.
O centro da crise é a Energoatom, a companhia nacional de energia nuclear, alvo de uma investigação que revelou um esquema de desvio de aproximadamente US$ 100 milhões (R$ 531,7 milhões). A primeira-ministra ucraniana, Yulia Svyrydenko, anunciou que uma auditoria da empresa foi iniciada e terá prioridade máxima.
A investigação, conduzida pelo Serviço de Auditoria do Estado, abrangerá a administração da Energoatom e 10 de suas filiais — incluindo três usinas nucleares — no período de 2023 a 2025. Os resultados preliminares devem ser divulgados até dezembro.
Svyrydenko afirmou que os materiais da auditoria serão encaminhados às autoridades policiais e órgãos anticorrupção para as providências cabíveis, ressaltando que outras estatais do setor energético também passarão por auditorias.
Operação “Midas”
O escândalo foi revelado pela Operação Midas, realizada pela Agência Nacional Anticorrupção da Ucrânia (Nabu). O nome da operação faz referência ao mito do rei que transformava tudo em ouro, e a investigação desmantelou uma rede que exigia subornos de 10% a 15% do valor dos contratos para manter fornecedores ativos.
Durante a operação, foram realizadas 70 buscas e cinco pessoas foram detidas, incluindo um ex-assessor do Ministério da Energia e o vice-presidente da Energoatom, Jakob Hartmut, que foi suspenso de suas funções.
Contexto histórico
A Ucrânia enfrenta desafios recorrentes relacionados à corrupção. Desde 2022, diversos escândalos envolvendo o setor de defesa, aquisição de suprimentos e contratação de serviços geraram renúncias ministeriais e prisões de altos funcionários.
Em 2023, o então ministro da Defesa, Oleksi Reznikov, deixou o cargo após irregularidades na compra de equipamentos e alimentos para o exército. Recentemente, altos funcionários foram presos por fornecer projéteis defeituosos e irregularidades no recrutamento militar foram identificadas.
Em julho, o presidente Zelensky manifestou a intenção de sancionar uma lei que limitava a independência dos órgãos anticorrupção do país, mas recuou após protestos e críticas de instituições internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), a União Europeia (UE) e o governo dos Estados Unidos.
Zelensky sob pressão
O escândalo ganhou intensidade ao incluir Timur Mindich, empresário e amigo próximo do presidente Zelensky, que também é coproprietário da produtora Kvartal 95, fundada por Zelensky antes de sua carreira política. Mindich teria deixado a Ucrânia, possivelmente rumo a Israel, antes das investigações começarem.
O caso causou renúncias no governo: o ministro da Justiça, German Galushchenko, e a ministra da Energia, Svitlana Grinchuk, deixaram seus cargos. Galushchenko é acusado de ter recebido benefícios pessoais, enquanto Grinchuk, embora ainda não formalmente implicada, é vista como próxima ao ex-ministro.
Zelensky declarou que foi surpreendido pela situação, mas reafirmou total apoio às investigações em curso.
