O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem intensificado suas advertências contra o que ele chama de “esquerda radical” após o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk. Essa postura tem provocado preocupações sobre uma possível tentativa do governo de tirar proveito da tragédia para abafar a oposição política.
Trump afirmou aos jornalistas que a esquerda radical tem causado grandes danos ao país, e que medidas estão sendo tomadas para resolver a situação. Após o assassinato de Kirk, apoiador fervoroso de Trump e associado de figuras como o vice-presidente JD Vance, o governo republicano discutiu classificar algumas organizações como terroristas domésticos e avaliar a possibilidade de investigar organizações progressistas.
Grupos como a rede de ativistas Indivisible e a Open Society Foundations, fundada pelo bilionário George Soros, foram citados como possíveis alvos dessas investigações. A Open Society Foundations repudiou veementemente o uso político da tragédia, condenando a tentativa de dividir a população americana e atacar a liberdade de expressão garantida pela Constituição.
Veículos internacionais, como o jornal alemão Süddeutsche Zeitung, expressaram preocupação com o que consideram um uso autoritário da morte de Kirk para enfraquecer liberdades civis, levantando o receio de que os Estados Unidos possam estar caminhando para um regime autoritário.
Repressão à oposição
Trump tem feito da retaliação contra adversários políticos um elemento central de sua campanha para retornar ao poder. Desde o início de seu segundo mandato, ele mobilizou o governo para exercer pressão sobre instituições independentes, como universidades, e ordenou a investigação da plataforma ActBlue, que arrecada fundos para o Partido Democrata.
Embora medidas mais severas para revogar benefícios fiscais a organizações sem fins lucrativos ainda não tenham sido implementadas, o clima político se agravou, e há temor de que a morte de Kirk esteja sendo usada para ampliar essa campanha contra adversários políticos.
Alguns congressistas republicanos, como o deputado Chip Roy e o senador Ted Cruz, propõem legislações que permitam ao Departamento de Justiça usar ferramentas contra o crime organizado para processar manifestantes e grupos apoiadores de protestos violentos.
Investigação e respostas oficiais
A polícia acredita que o suspeito Tyler Robinson tenha agido sozinho, movido por ódio contra Kirk. Mesmo assim, autoridades do governo têm afirmado a necessidade de investigações mais amplas. A procuradora-geral Pam Bondi culpou os “radicais de esquerda” pelo ataque, e o chefe de gabinete adjunto da Casa Branca, Stephen Miller, declarou que uma campanha organizada levou ao assassinato.
No podcast apresentado por JD Vance na Casa Branca, Miller afirmou que a raiva justa será canalizada para erradicar essas redes, qualificando-as como terroristas.
Posicionamento e cultura política
Trump tem um histórico de defesa parcial em relação à violência política, chegando a perdoar manifestantes envolvidos na invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021 e demorando para condenar atos de supremacistas brancos.
Após o assassinato de Kirk, Trump denunciou a violência da esquerda radical, mas deixaram de ser mencionados ataques semelhantes cometidos contra membros do Partido Democrata.
Conservadores que frequentemente reclamam de uma “cultura do cancelamento” promovida por liberais, agora lideram campanhas para prejudicar aqueles que criticaram Kirk após sua morte. Isso resultou em demissões e punições de professores, funcionários públicos e jornalistas.
Autoridades do Departamento de Estado advertiram que poderão revogar vistos de estrangeiros que glorifiquem ou ridicularizem o assassinato, enquanto Vance incentivou denúncias contra quem celebre o ocorrido.
Especialistas em direitos civis alertam que essas ações se assemelham a práticas repressivas do passado, como o macartismo, colocando em risco a liberdade de expressão nos Estados Unidos.
As recentes posturas da Casa Branca e de parlamentares republicanos contrastam fortemente com a tradição do partido em defender a liberdade de expressão, levantando questionamentos sobre os rumos da democracia americana.