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quinta-feira, 09/10/2025

Trump sofre prejuízos após uma semana de paralisação do governo

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O governo dos Estados Unidos completou uma semana de paralisação do governo federal, conhecida como shutdown, nesta quarta-feira (8/10). Sem perspectivas para um acordo no Congresso, a administração de Trump já enfrenta perdas econômicas e operacionais em diversas partes do país. Com os recursos federais bloqueados e servidores públicos sem receberem seus salários, os impactos atingem setores que vão desde aeroportos até as Forças Armadas.

A paralisação iniciou-se após o Congresso não aprovar o orçamento federal enviado pelo presidente republicano Donald Trump, cujo financiamento do governo foi vetado. O prazo para aprovação encerrou-se às 23h59 do dia 30 de setembro e as duas propostas que estavam em votação no Senado — uma republicana e outra democrata — foram rejeitadas.

O que significa shutdown

Nos Estados Unidos, o termo shutdown refere-se à interrupção parcial do funcionamento do governo federal quando o orçamento não é aprovado pelo Congresso. Sem recursos financeiros liberados, vários departamentos e agências governamentais ficam impossibilitados de operar normalmente.

Durante essas paralisações, somente os serviços essenciais, como defesa nacional, hospitais e forças armadas, continuam funcionando. Setores considerados não essenciais, como parques, museus e parte da administração pública, suspendem suas atividades.

Servidores afetados podem ser afastados ou ainda obrigados a trabalhar sem garantia imediata de pagamento, o que aumenta os prejuízos econômicos e sociais da crise.

Casos anteriores e atuais

Em 2018–2019, Trump condicionou o orçamento à construção do muro na fronteira com o México, o que resultou no shutdown mais longo da história dos EUA, com 35 dias de paralisação, 800 mil funcionários públicos sem salário e prejuízos estimados em US$ 3 bilhões.

Em 2025, a controvérsia em torno dos recursos destinados à saúde e programas sociais voltou a travar o governo. Cerca de 750 mil servidores públicos permanecem sem pagamento, em meio a cortes internos e tensões externas.

Conflito político e impasse no Congresso

No cerne da disputa está a exigência dos democratas para a manutenção do financiamento do programa de saúde conhecido como Obamacare. O governo de Trump prefere adiar essa discussão.

Com isso, quase 1 milhão de funcionários públicos federais foram colocados em licença sem salário, enquanto outros 700 mil continuam trabalhando sem receber. Essa situação remete à paralisação de 2019, cujo atraso no pagamento levou ao fechamento temporário do espaço aéreo de Nova York.

Forças Armadas e servidores sem pagamento

Com a paralisação em curso, os militares correm o risco de não receber o pagamento previsto para a quarta-feira seguinte, 15 de outubro. Nos EUA, os salários das Forças Armadas são pagos a cada quinze dias, e o Tesouro não pode emitir a folha salarial sem que o orçamento seja aprovado.

Ao Metrópoles, o jornalista especialista na Casa Branca, Fernando Hessel, classificou a situação como “inaceitável”: as Forças Armadas não deveriam ser envolvidas em disputas políticas internas. Ele argumenta que a estratégia de Trump, ao utilizar o impasse como manobra de pressão, agrava a percepção de instabilidade institucional.

Praticamente 2,3 milhões de servidores federais estão diretamente impactados – aproximadamente 900 mil foram colocados em licenças sem pagamento, e outros 700 mil seguem trabalhando sem receber.

Hessel destacou que, até 2019, havia garantia de pagamento retroativo, mas Trump removeu essa cláusula, criando uma brecha para usar os salários como ferramenta política.

“Na prática, ele está se beneficiando da paralisação para reter caixa e diminuir temporariamente as despesas, enquanto externamente transfere a responsabilidade aos democratas”, explicou.

Impactos na aviação e transporte aéreo

A Administração Federal de Aviação (FAA) informou que a carência de pessoal tem causado atrasos significativos em aeroportos como os de Las Vegas, Denver e Newark, que serve a Nova York. Cerca de 13 mil controladores e 50 mil agentes da Administração de Segurança no Transporte (TSA) continuam trabalhando sem pagamento.

De acordo com o secretário de Transportes, Sean Duffy, o absenteísmo entre controladores de tráfego aéreo dobrou desde o início da paralisação, em alguns locais, as equipes foram reduzidas pela metade. Dados do FlightAware indicam que mais de 4 mil voos foram afetados no começo da semana.

O setor aéreo projeta perdas superiores a US$ 1 bilhão por semana, enquanto analistas estimam que o shutdown diminui o PIB americano em 0,1 ponto percentual a cada sete dias.

Hessel alerta que “mesmo que o governo reabra imediatamente, o efeito é comparável a um tsunami: a onda passa, mas os danos permanecem, como queda na confiança, desvalorização de ativos e retração no consumo”.

Consequências fiscais e econômicas

O IRS, que equivale à Receita Federal dos EUA, afastou mais da metade dos seus funcionários — mais de 34 mil deles — e o prazo para entrega do imposto de renda foi mantido até 15 de outubro. Segundo Hessel, isso mantém artificialmente o caixa do governo, enquanto a economia real desacelera. “É um colapso fiscal mascarado por disputa política”, afirmou.

Além disso, a suspensão de programas federais bloqueia financiamentos e vendas de imóveis, enquanto investidores buscam segurança em ativos como ouro. A U.S. Travel Association calcula que o setor de turismo perde mais de US$ 1 bilhão por semana, com prejuízos totais que podem ultrapassar US$ 7 bilhões.

Impasses políticos seguem

O Congresso permanece sem uma solução: no Senado, faltam votos para aprovar propostas de financiamento temporário; na Câmara, as atividades estão suspensas.

Mike Johnson, presidente da Câmara, recusou-se a votar um projeto específico para garantir o pagamento dos salários dos militares. Ele pretende realizar uma reunião privada com parlamentares republicanos na quinta-feira (9/10) para buscar uma forma de contornar a paralisação.

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