Um dia após uma ligação telefônica com Vladimir Putin, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebe nesta sexta-feira (17/10) o líder ucraniano Volodymyr Zelensky na Casa Branca. Este encontro, cheio de expectativas, pode representar uma mudança importante na estratégia americana relativa à guerra no Leste Europeu e no apoio militar à Ucrânia.
Nas negociações, Trump e Zelensky devem abordar o envio de mísseis de cruzeiro Tomahawk, que possuem longo alcance, podendo atingir alvos entre 1.600 e 2.500 quilômetros. Esse assunto é considerado “muito sensível” e tem gerado debates na alta cúpula do governo dos EUA, que tenta balancear o suporte à Ucrânia com a manutenção do diálogo diplomático com Moscou.
No entanto, as discussões sobre os mísseis provavelmente não evoluirão conforme esperado por Zelensky. Após a ligação com Putin, Trump adotou uma postura mais cautelosa. Ele afirmou que os EUA “também precisam dos Tomahawks” ao comentar a possibilidade de enviar os mísseis para a Ucrânia. “Temos muitos, mas precisamos mantê-los. São armas essenciais, poderosas e precisas. Não podemos esgotar nossos próprios estoques”, declarou o presidente.
Ligação com Putin
A reunião acontece menos de 24 horas depois de uma conversa telefônica de duas horas e meia entre Trump e Vladimir Putin. Segundo informações do Kremlin, o diálogo foi “honesto e produtivo”, incluindo discussões sobre o futuro do conflito na Ucrânia, negociações de paz e a possibilidade de uma nova cúpula entre ambos, a ser realizada em Budapeste, Hungria, nas próximas semanas.
Putin reiterou interesse em encontrar uma solução política e diplomática pacífica, mas alertou que o envio dos mísseis Tomahawk à Ucrânia prejudicaria significativamente as relações entre os dois países, conforme afirmou Yury Ushakov, assessor diplomático do Kremlin. O líder russo também acusou o governo de Kiev de recorrer a métodos terroristas contra civis e instalações energéticas.
Em resposta, Trump destacou a importância de alcançar “uma paz rápida” e afirmou que o término da guerra abrirá grandes oportunidades de cooperação econômica entre os Estados Unidos e a Rússia.
Zelensky em Washington
Zelensky chegou a Washington na tarde de quinta-feira (16/10) acompanhado por uma equipe de ministros e assessores. Nas redes sociais, ele ironizou a reação do Kremlin ao avanço das discussões sobre os Tomahawks: “Podemos notar que Moscou tenta retomar o diálogo assim que os Tomahawks entram em pauta. Enquanto a Rússia aposta no terror contra a infraestrutura energética, estamos trabalhando para fortalecer a resistência da Ucrânia.”
O líder ucraniano manifestou a intenção de discutir com Trump novas formas de cooperação militar, o fornecimento de sistemas antiaéreos e investimentos americanos em infraestrutura energética, que tem sido alvo de bombardeios russos nas últimas semanas.
Novo equilíbrio
Desde a volta de Trump à presidência em janeiro, as relações entre Washington e Kiev têm variado entre desconfiança e aproximação. Após uma visita tumultuada em fevereiro marcada por constrangimentos públicos, o relacionamento entre os dois líderes melhorou pouco a pouco.
Em setembro, Trump afirmou que a Ucrânia poderia recuperar seus territórios perdidos e avançar mais, demonstrando apoio a uma possível ofensiva contra as forças russas.
Fontes do Departamento de Estado indicam que o presidente americano considera utilizar a entrega dos mísseis Tomahawk como uma ferramenta de pressão diplomática sobre Putin, com o objetivo de forçar a retomada das negociações de cessar-fogo.
Cúpula em Budapeste
A ligação entre Trump e Putin abriu caminho para uma nova rodada de contatos entre os ministros das Relações Exteriores dos dois países. Yury Ushakov informou que o secretário de Estado americano, Marco Rubio, e o ministro russo de Relações Exteriores, Sergey Lavrov, devem dialogar em breve para organizar os preparativos da cúpula em Budapeste.
Essa será a segunda reunião presencial entre Trump e Putin desde a volta do republicano ao poder. A primeira, realizada em agosto no Alasca, não apresentou resultados concretos, mas trouxe promessas de avanços diplomáticos graduais.
Missões cruzadas
Para Kiev, este é um momento decisivo. Com a chegada do inverno e a infraestrutura energética sob ataques russos, o governo ucraniano vê nesta reunião uma oportunidade para obter novas garantias de segurança e apoio financeiro.
A delegação liderada pela primeira-ministra Yuliia Svyrydenko também participa de encontros paralelos em Washington focados em energia e reconstrução.
Por sua vez, Trump enfrenta o desafio de equilibrar sua postura: mostrar força diante da Rússia sem prejudicar o diálogo diplomático com Putin. O republicano busca adotar um discurso mais firme contra Moscou, mas ainda resiste a compromissos de longo prazo com Kiev.