O assassinato do ativista conservador Charlie Kirk, aliado próximo de Donald Trump, reacendeu o debate sobre o uso político da violência nos Estados Unidos. Enquanto líderes mundiais condenam o ato, especialistas avisam que a Casa Branca pode se aproveitar do evento para fortalecer discursos de medo e justificar ações autoritárias.
Líderes do México, Reino Unido, Itália, Israel, Hungria e Argentina manifestaram repúdio ao assassinato de Charlie Kirk. No entanto, as respostas mais rápidas e severas vieram do presidente dos EUA.
Foi o próprio Donald Trump quem comunicou o assassinato de Kirk, uma figura conhecida da direita radical, morto a tiros em uma universidade em Utah, oeste do país, na quarta-feira (10). “Este é um momento triste para os Estados Unidos”, afirmou Trump em um vídeo publicado em sua plataforma Truth Social logo após o ocorrido. O presidente chamou Kirk de “mártir da verdade” e advertiu que seu governo identificará todos os responsáveis e as organizações que os apoiam.
Aos 31 anos, Kirk era um influenciador e ativista ultraconservador ativo. Trump declarou em sua rede que “ninguém entendia melhor a juventude dos Estados Unidos do que Charlie”.
Segundo Romuald Sciora, diretor do Observatório Político e Geoestratégico dos EUA do IRIS, na França, Kirk não era muito conhecido nacionalmente. “Era um ícone para parte da juventude americana, mas muitos em Nova York não o reconheciam. Era necessário apoio ao MAGA e acompanhar movimentos da extrema direita para conhecer Kirk”, explica.
“Nação do espetáculo”
O pesquisador alerta que a Casa Branca pode se aproveitar da morte de Kirk. “Trump está usando esse assassinato para seus interesses, o que é preocupante. É triste ver bandeiras a meio mastro para ele, mas não para crianças mortas nas escolas”, observa.
Sciora complementa: “Vivemos na ‘nação do espetáculo’, e Trump é mestre nisso. Ele usa o episódio para mostrar a América sitiada, repleta de violência, justificando o envio da Guarda Nacional para várias cidades. Isso é propaganda”.
A morte de Kirk provocou reações até fora do campo republicano. O ex-presidente democrata Joe Biden e a ex-candidata Kamala Harris condenaram o assassinato rapidamente, surpreendendo o especialista. “Ninguém merece ser assassinado, mas discursos como o deles reforçam a retórica de Trump. Ficaram seis meses em silêncio diante dos ataques à democracia pelo governo atual, o que foi um erro estratégico”, avalia.
“Temo que Trump aproveite isso para avançar em um regime semi-autoritário, como vem acontecendo nos últimos seis meses nos EUA”, finaliza Romuald Sciora.