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sexta-feira, 24/10/2025

Trump parte para Ásia com possibilidade de encontro com Lula

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, inicia nesta sexta-feira (24/10) uma viagem diplomática pela Ásia, visando reforçar a liderança dos EUA no panorama mundial. Sua agenda inclui visitas à Malásia, Japão e Coreia do Sul, e pode incluir uma reunião com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), em Kuala Lumpur.

Considerada politicamente delicada, a viagem contará com reuniões bilaterais, inclusive o primeiro encontro presencial do segundo mandato de Trump com o presidente chinês, Xi Jinping. A intenção é conter a influência crescente da China no Sudeste Asiático e restabelecer canais de diálogo após meses de tensões comerciais.

A possível reunião com Lula, em meio às recentes divergências entre Brasil e EUA, adiciona um componente sensível à visita. Conforme informações da secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, Trump partirá de Washington às 23h desta sexta rumo à Malásia, onde participará do jantar de abertura da cúpula da ASEAN no domingo (26/10).

A programação do domingo inclui encontros bilaterais com o primeiro-ministro malaio, Anwar Ibrahim, o primeiro-ministro do Camboja, Hun Manet, e o primeiro-ministro da Tailândia, Anutin Charnvirakul. O dia será concluído com um jantar de trabalho com líderes da ASEAN e representantes dos EUA.

Embora haja expectativa de reunião entre Trump e Lula, o compromisso não consta oficialmente na agenda do presidente norte-americano divulgada na noite de quinta-feira (23/10).

Na segunda-feira, Trump seguirá para o Japão para se encontrar com a nova primeira-ministra, Sanae Takaichi, e depois para Busan, na Coreia do Sul, onde terá reuniões com o presidente Lee Jae-myung e líderes empresariais da APEC.

Nos bastidores, assessores de ambos os governos consideram bastante provável a realização do encontro entre os presidentes durante a cúpula, que pode marcar uma reaproximação após os impostos tarifários dos EUA sobre produtos brasileiros, que geraram tensões diplomáticas.

Lula pretende solicitar a remoção dessas tarifas e propor parcerias comerciais adicionais. No Planalto, acredita-se que uma conversa direta pode destravar pautas econômicas e abrir espaço para cooperação em setores como energia, tecnologia e meio ambiente.

Além das negociações diplomáticas, a cúpula da ASEAN é vista como uma oportunidade para o Brasil se posicionar como interlocutor entre o Sul Global e as grandes potências.

Além do provável encontro com Trump, a agenda de Lula inclui reuniões com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e com empresários asiáticos interessados em investir no Brasil.

O historiador Roberto Moll, da Universidade Federal Fluminense (UFF), destaca que, apesar da expectativa positiva para o encontro, é essencial cautela. Trump já utilizou encontros diplomáticos para pressionar e até recorrer à desinformação. Contudo, acredita que Lula e a diplomacia brasileira estão preparados para enfrentar essa postura e que o governo dificilmente aceitará negociar pontos que comprometam a soberania nacional.

“Acredito que tentem negociar as tarifas junto à ampliação de parcerias comerciais, exploração de terras raras e o papel das Big Techs. No entanto, o governo brasileiro, mesmo nesses temas, não abrirá mão da soberania”, afirmou Moll.

Recentemente, os presidentes já conversaram por videoconferência, um diálogo considerado positivo, abordando comércio, tarifas e sanções.

Em agosto, Trump impôs tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, especialmente do setor pecuário. Lula criticou tais medidas, ressaltando que ações unilaterais prejudicam a soberania nacional e podem desencadear retaliações comerciais.

Lula tem fortalecido parcerias com países asiáticos como a Indonésia, buscando diversificar aliados e expandir comércio e investimentos. A aproximação com Trump é interpretada como uma tentativa de reconquistar espaço comercial perdido.

Trump busca estreitar laços com o Brasil, aproveitando sua visita à Ásia para frear influências externas, principalmente da China, e proteger setores estratégicos como o de terras raras e petróleo.

O papel da ASEAN

Fundada em 1967, a Associação das Nações do Sudeste Asiático é um dos principais blocos econômicos e de diálogo regional, incluindo países como Malásia, Indonésia e Vietnã. Além de fomentar cooperação econômica, o grupo é palco de disputas geopolíticas, especialmente entre EUA e China.

Com a crescente influência da China, a presença de Trump indica o interesse de Washington em reconquistar o espaço estratégico na região. Para o Brasil, a participação na cúpula integra a estratégia de diversificação de mercados e o fortalecimento das relações com o Oriente.

Como Trump pode equilibrar relações com Brasil e China

A presença crescente da China na América Latina se tornou um ponto chave na disputa geopolítica. Nos últimos 20 anos, Pequim ampliou investimentos em infraestrutura, energia e mineração na região, ocupando espaço que antes era prioritariamente dos EUA.

Segundo o historiador Roberto Moll, a China se estabeleceu como um polo alternativo para o capital transnacional, oferecendo um modelo que desafia o liberalismo econômico tradicional defendido pelos Estados Unidos.

Essa competição explicaria a tentativa de Trump de limitar a influência chinesa em setores estratégicos, como terras raras e petróleo, buscando condições comerciais mais favoráveis para os interesses americanos.

Nesse contexto, o Brasil ocupa uma posição delicada. Por um lado, enfrenta tarifas norte-americanas; por outro, precisa equilibrar sua relação com Washington e preservar a cooperação com Pequim.

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