Thomas Shannon, ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, afirmou em entrevista à BBC News Brasil que o ex-presidente Jair Bolsonaro é uma questão encerrada para o líder norte-americano Donald Trump.
“Trump entende que sua tentativa de proteger Bolsonaro da prisão e garantir sua participação nas eleições foi malsucedida. Por que ele tentaria novamente? Trump é inteligente e sabe quando é hora de desistir de uma causa e buscar outra”, comentou o diplomata ao ser questionado sobre a relação entre os dois políticos.
Nomeado embaixador no Brasil pelo ex-presidente dos EUA Barack Obama, adversário de Trump, Shannon hoje está aposentado e trabalha em um escritório de advocacia contratado pela Advocacia Geral da União para defender os interesses brasileiros nos Estados Unidos em relação a tarifas.
Segundo Shannon, o tema Bolsonaro foi retirado das discussões bilaterais pelo próprio governo brasileiro. “Acredito que o assunto perdeu importância porque o Brasil deixou claro que não abriria mão, e o Supremo Tribunal Federal deixou evidente que manteria as acusações e a proibição da candidatura de Bolsonaro nas próximas eleições. Com isso, o que os Estados Unidos poderiam fazer?”.
Uma das razões para as tarifas aplicadas pelos EUA contra o Brasil e a imposição da Lei Magnitsky a ministros do STF é o processo contra Bolsonaro, condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado.
Shannon também afirma que Trump foi convencido de que as tarifas sobre produtos brasileiros prejudicam as empresas e consumidores americanos.
Este posicionamento surge às vésperas de um possível encontro entre Trump e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que pode acontecer em Kuala Lumpur, na Malásia. Apesar de ainda não oficial, a reunião é dada como certa nos bastidores do governo.
“Trump, à sua maneira, transformou um problema bilateral em um encontro pessoal positivo, usando-o para melhorar o tom das conversas entre os dois países”, declarou o ex-embaixador.
Durante a viagem à Malásia, Lula declarou estar otimista e disposto a encontrar uma solução conjunta com o presidente dos Estados Unidos.
“Estou aqui com a esperança de que possamos chegar a um acordo. Tudo dependerá da conversa, mas mantenho o otimismo de que encontraremos uma saída”, afirmou Lula aos jornalistas.