20.5 C
Brasília
sábado, 18/10/2025

Trump inicia nova fase como mediador entre Zelensky e Putin

Brasília
céu limpo
20.5 ° C
21.7 °
20.5 °
79 %
1.5kmh
0 %
sáb
33 °
dom
28 °
seg
25 °
ter
22 °
qua
26 °

Em Brasília

A trajetória de Donald Trump para firmar-se como “presidente mediador” ganhou novos desdobramentos na última semana. Com um encontro na Casa Branca com Volodymyr Zelensky e nova conversa com Vladimir Putin, o republicano busca estabelecer um cessar-fogo no conflito que já dura mais de três anos no Leste Europeu.

A reunião entre Trump e o presidente ucraniano, realizada em Washington na última sexta-feira (17/10), não atendeu às expectativas de Kiev. Zelensky esperava um sinal positivo para o envio dos mísseis Tomahawk, mas retornou sem confirmação.

O cenário mudou após a chamada telefônica de 2h30 entre Trump e Putin, no dia anterior à reunião com o ucraniano. O telefonema levou o republicano a adotar uma postura mais cautelosa, reconhecendo os limites do apoio militar dos EUA.

“Precisamos de Tomahawks para os EUA também. Temos muitos, mas precisamos deles”, afirmou Trump antes de encontrar Zelensky. “Não podemos esgotá-los para o nosso país. Eles são vitais, poderosos e precisos. Precisamos deles, então não sei o que podemos fazer sobre isso”, completou, demonstrando recuo no envio das armas para Kiev.

Questionado se Putin teria tentado dissuadi-lo, respondeu com ironia: “O que você acha que ele vai dizer? ‘Por favor, venda Tomahawks?’”, disse rindo. “Perguntei a ele: ‘Você se importaria se eu desse uns 2 mil Tomahawks à sua oposição?’ Foi exatamente assim que falei.”

No final da reunião, Zelensky afirmou em coletiva que discutiu o fornecimento dos mísseis com Trump, mas evitou confirmar avanços concretos. Segundo ele, Washington não quer provocar uma escalada no conflito com a Rússia.

Gestos diplomáticos e realismo

Antes do encontro, Trump declarou acreditar que “a Rússia está pronta para resolver a situação na Ucrânia” e destacou haver “boa chance de concluir essa guerra”. Mesmo assim, evitou comprometer-se com novos envios de armamentos, dizendo que o país “não pode esgotar seus estoques estratégicos”.

Durante a coletiva, reconheceu o desgaste da guerra e afirmou que ele e Zelensky “suportaram muita coisa”. “Faz muito tempo, e acho que estamos fazendo um grande progresso”, disse.

Por sua vez, o líder ucraniano agradeceu o papel de mediação, mas alertou para a postura do Kremlin. “Entendemos que Putin não está pronto. Acho que ele não está, mas estou confiante de que, com a ajuda de vocês, podemos parar esta guerra”, afirmou.

Trump aposta no papel de pacificador

Após mediar o cessar-fogo entre Israel e Hamas, Trump tenta repetir o feito na guerra da Ucrânia. Ele se descreve como “presidente mediador” e diz “adorar resolver guerras”.

Desta vez, porém, o cenário é mais complexo. O republicano enfrenta um Putin inflexível, um Zelensky sob pressão e relações tensas entre Washington e Moscou.

Os EUA cogitaram enviar mísseis Tomahawk à Ucrânia, o que o Kremlin alertou que poderia provocar uma “espiral séria de escalada”. O porta-voz Dmitry Peskov afirmou que o armamento poderia “agravar o risco de confronto direto entre as potências”, lembrando que os Tomahawks “podem ser equipados com ogivas nucleares”.

Diplomacia em xeque

As tensões aumentam pouco menos de dois meses após a cúpula do Alasca, quando Trump e Putin prometeram “abrir caminho” para a paz. Desde então, as negociações estagnaram, e o Kremlin mesmo admitiu que o diálogo estava em uma “pausa séria”.

Agora, as atenções se voltam para a cúpula em Budapeste, prevista para as próximas semanas. Segundo Trump, “a reunião será bilateral, mas Zelensky manterá contato”.

Questionado sobre uma possível cessão territorial ucraniana, um dos pontos que a Rússia pressiona para viabilizar a trégua, o republicano respondeu de forma ambígua: “Nunca se sabe. A guerra é muito interessante. Nunca se sabe, com a guerra e a paz, mas nunca se sabe.”

Diálogo de Zelensky com líderes europeus

Logo após a Casa Branca, Volodymyr Zelensky informou líderes europeus virtualmente sobre a reunião com Trump. Os líderes reafirmaram apoio à Ucrânia e defenderam que “uma paz justa e duradoura é o único caminho para terminar a violência”.

O secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, também participou da conversa. Segundo o governo britânico, os líderes concordaram em manter discussões sobre formas de apoiar Kiev antes e depois de um possível cessar-fogo, inclusive em uma reunião da chamada Coalizão dos Dispostos.

Complexidade do cenário europeu

Para o especialista em direito internacional Pablo Sukiennik, o movimento de Trump mostra uma tentativa de aplicar a mesma lógica usada no Oriente Médio a um contexto muito diferente.

Enquanto na guerra entre Israel e Hamas países terceiros não se envolveram diretamente, na guerra Rússia-Ucrânia há uma União Europeia fortemente engajada no apoio a Kiev, enfrentando uma Rússia sem vontade de ceder.

Sukiennik avalia que, devido ao número de atores envolvidos, o processo será longo e complexo. Ao contrário do conflito entre Hamas e Israel, a guerra entre Rússia e Ucrânia envolve potências com interesses diretos — inclusive União Europeia e Reino Unido — tornando as negociações mais difíceis e o resultado incerto.

Veja Também