IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Assumindo papel central na guerra entre Israel e Irã, o presidente Donald Trump exigiu que o governo iraniano se renda sem condições. Ele também declarou que o líder do país, aiatolá Ali Khamenei, é um “alvo vulnerável”, mas que os Estados Unidos não planejam matá-lo – pelo menos por enquanto.
Ameaças claras foram feitas na rede Truth Social logo após Trump aconselhar os habitantes de Teerã a evacuarem a cidade. Ele também afirmou que seu objetivo não é um cessar-fogo entre Irã e Israel, mas sim o “fim total da guerra”, emitindo um ultimato direto.
Segundo Trump, os EUA sabem exatamente onde o “líder supremo” está escondido e declarou que embora ele seja um alvo fácil, está protegido. Ele enfatizou que não pretende matá-lo no momento, mas advertiu contra ataques com mísseis contra civis ou soldados americanos, ressaltando que sua paciência está se esgotando. Em seguida, exigiu “RENDIÇÃO INCONDICIONAL” em letras maiúsculas.
Trump fala como se os EUA estivessem diretamente envolvidos no conflito, mesmo que ele tenha confundido ao mencionar soldados americanos, já que ele afirmou que qualquer retaliação contra Washington seria considerada uma declaração de guerra.
A intervenção ativa do presidente na guerra, que começou após um ataque israelense ao Irã na última sexta-feira (13), alterou o panorama do conflito, que continuou violento, apesar de uma redução nos ataques. Na manhã de terça-feira, antes da ameaça a Khamenei, Trump reafirmou que não busca negociações de paz com o Irã.
Ele criticou Teerã por não aceitar um acordo oferecido anteriormente para encerrar o programa nuclear em troca do levantamento de sanções. As negociações foram interrompidas quando os EUA exigiram o fim total do programa nuclear iraniano, uma condição rejeitada pelo aiatolá, e Israel desencadeou o conflito com seu ataque.
No último dia 16, Trump causou preocupação ao deixar a reunião do G7 no Canadá e retornar abruptamente aos EUA depois de sugerir a evacuação de Teerã, uma capital com 10 milhões de habitantes, algo impraticável.
Durante o voo de volta, ele rejeitou a oferta do presidente francês, Emmanuel Macron, de propor uma trégua, dizendo que a situação é muito mais complexa que isso. Trump reiterou sua demanda pelo fim do programa nuclear iraniano e alertou para o envio de reforços militares ao Oriente Médio, incluindo a movimentação de porta-aviões.
Como ultimato, o presidente mencionou a possibilidade de enviar seu vice, J. D. Vance, e o negociador Steve Witkoff para tratar diretamente com representantes iranianos.
Apesar das negociações diplomáticas confusas e de rumores sobre uma possível disposição do Irã para diálogo, os combates continuam intensos. Israel realizou ataques contra instalações militares e depósitos em Teerã, resultando em pelo menos 24 mortes, conforme o governo local, com estimativas de cerca de 300 mortos do lado iraniano.
As estradas que levam para fora da capital estão congestionadas, de acordo com relatos da mídia local e do New York Times. No entanto, houve muita desinformação circulando nas redes sociais, com imagens antigas de feriados islâmicos recentes sendo usadas erroneamente para ilustrar a crise atual.
Tel Aviv confirmou a morte de Ali Shadmani, líder militar próximo ao aiatolá Khamenei, comandante do Estado-Maior iraniano em tempos de guerra e ex-chefe das Forças Armadas e da Guarda Revolucionária.
Essa operação aproxima Israel ainda mais de Khamenei, cujo braço direito já havia sido eliminado em ações recentes. O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu não descartou a possibilidade de assassinar o líder iraniano, embora a mídia americana tenha informado que Trump inicialmente havia rejeitado essa ideia nas negociações.
O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, sugeriu que o aiatolá pode sofrer o mesmo destino do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, capturado e executado anos após a invasão dos EUA ao Iraque em 2003.
Ele advertiu o líder iraniano contra continuar lançando mísseis contra civis em Israel, lembrando o destino trágico do ditador iraquiano após usar mísseis contra o país judeu durante a Guerra do Golfo em 1991.
Em relação ao ataque a um prédio da televisão estatal iraniana que causou três mortes e interrompeu a transmissão ao vivo, as forças israelenses mudaram a justificativa inicialmente dada. Antes afirmavam que o local abrigava atividades militares; agora dizem que a emissora propagava desinformação contra Israel, ressaltando o simbolismo da ação.
Novos ataques foram realizados contra infraestruturas militares iranianas. A Força Aérea do Irã, já debilitada, perdeu parte de seus caças F-14 herdados do regime derrubado em 1979, segundo imagens divulgadas por Israel, embora a mídia iraniana alegue que eram verdadeiras iscas para atrair ataques.
Enquanto isso, os ataques de mísseis do Irã a Israel têm diminuído em intensidade, indicando possíveis problemas de estoque ou uma estratégia de preservação de armamentos. Estima-se que o Irã já utilizou ou perdido quase metade dos cerca de 2.000 mísseis balísticos de longo alcance que possuía antes do conflito.
Até antes do último ataque, Israel afirmava ter destruído um terço desse arsenal. Houve alguns lançamentos recentes, mas em números bem menores que nos primeiros dias da guerra.
O Irã também declarou ter atingido um centro do Mossad, o serviço de inteligência israelense, que esteve envolvido ativamente no ataque inicial da semana passada.
A atual crise tem sua origem na disputa nuclear, mas é uma continuação das tensões que começaram após o ataque terrorista do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023. Desde então, Israel tem enfraquecido os aliados regionais do Irã, como o Hezbollah, focando agora diretamente no centro da liderança iraniana.