IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Assumindo um papel central no conflito entre Israel e Irã, o presidente Donald Trump declarou nesta terça-feira (17) que o aiatolá Ali Khamenei, figura máxima da teocracia persa, é “um alvo simples”, mas que os Estados Unidos não planejam eliminá-lo, pelo menos por enquanto.
A declaração, feita pela rede Truth Social, ocorreu após Trump ter aconselhado os habitantes de Teerã a deixarem a cidade. Ele reforçou que não busca um cessar-fogo entre Irã e Israel, mas sim o “término da guerra” em forma de ultimato.
“Sabemos exatamente onde o ‘líder supremo’ está escondido. Ele é um alvo fácil, porém está seguro. Não vamos matá-lo agora, pelo menos não por enquanto. Mas não toleramos ataques com mísseis contra civis ou soldados americanos. Nossa paciência está chegando ao fim”, escreveu Trump.
Trump fala como se os EUA estivessem em guerra diretamente, ainda que cite soldados americanos, e já tenha dito que qualquer retaliação contra alvos norte-americanos seria considerada uma declaração de guerra.
A atuação ativa do presidente norte-americano no conflito, iniciado quando Israel atacou o Irã na sexta-feira passada (13), alterou o panorama político da guerra. A terça-feira amanheceu com uma troca de ataques um pouco menos intensa, porém ainda mortal, com ao menos 24 mortos iranianos confirmados.
Antes da ameaça a Khamenei, Trump reiterou seu posicionamento, dizendo que não procurou o Irã para negociar a paz. Ele ressaltou que Teerã deveria ter aceitado uma proposta quando esta estava disponível, continuando as negociações para desativar o programa nuclear iraniano em troca do fim das sanções econômicas.
Após o Irã rejeitar o encerramento total do seu programa nuclear, as conversas foram interrompidas e Israel atacou de forma abrupta, o que intensificou o conflito.
Na segunda-feira (16), ao deixar a reunião do G7, Trump sugeriu a evacuação de Teerã, uma cidade de cerca de 10 milhões de pessoas, o que causou alarme devido à inviabilidade prática.
Em resposta ao presidente francês Emmanuel Macron, que propôs uma trégua, Trump disse que busca mais do que um cessar-fogo, afirmando que deseja o fim completo da guerra e exigindo o término do programa nuclear iraniano.
Israel já atacou diversas instalações vinculadas a esse programa, considerado motivo inicial da guerra. A erradicação total, porém, pode demandar recursos militares avançados, como bombas de penetração subterrânea que só os EUA possuem.
Trump também ordenou reforços militares no Oriente Médio, incluindo o envio de mais um grupo de porta-aviões, e sugeriu uma possível missão diplomática liderada pelo vice-presidente J. D. Vance e pelo negociador Steve Witkoff para tratar diretamente com representantes iranianos.
Enquanto as negociações seguem incertas, o conflito mantém intensidade, embora reduzida em comparação ao início.
Ataques continuam
Israel retomou ataques contra bases militares no oeste do Irã e na própria capital, onde um grande depósito de combustíveis foi consumido por chamas. Pelo menos 24 iranianos morreram, segundo as autoridades locais, enquanto estimativas indicam cerca de 300 mortos no total do lado iraniano.
Relatórios de tráfego e notícias falsas circulam nas redes, muitas baseadas em imagens de feriados recentes, e não da atual situação.
Tel Aviv confirmou a morte de Ali Shadmani, chefe militar próximo de Khamenei, que ocupava cargos importantes nas Forças Armadas e na Guarda Revolucionária, unidade pretoriana do regime.
Assim, Israel se aproxima ainda mais da liderança suprema iraniana, tendo já eliminado seu braço direito. O premiê Binyamin Netanyahu não descartou a possibilidade de assassinar Khamenei, embora Trump tenha inicialmente rejeitado essa ideia.
O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, afirmou que o aiatolá poderia ter destino semelhante ao do ditador iraquiano Saddam Hussein, capturado e enforcado após anos de regime autoritário.
Katz advertiu o líder iraniano contra continuar os ataques, lembrando o histórico de Saddam na Guerra do Golfo de 1991, quando ele lançou mísseis contra Israel.
Israel alterou sua justificativa para o ataque a um prédio da TV estatal iraniana, que deixou três mortos. Inicialmente, alegaram que o local escondia atividades militares, mas agora afirmam que o canal propagava desinformação contra Israel, evidenciando o simbolismo da ação.
Novos ataques miraram infraestruturas militares iranianas. Imagens de Israel mostram a perda de alguns caças F-14 herdados do regime anterior, embora a mídia iraniana alegue que foram iscas para atrair ataques.
Os disparos de mísseis iranianos contra Israel têm sido menos frequentes, sugerindo dificuldades no estoque ou uma estratégia de economia de armas. Estima-se que quase metade dos aproximadamente 2.000 mísseis de longo alcance tenham sido utilizados ou perdidos desde o início da guerra. Israel afirma ter destruído um terço desse arsenal.
Na madrugada e manhã seguintes, ocorreram lançamentos de mísseis em menor quantidade comparados aos primeiros dias de conflito.
Os iranianos também afirmam ter atacado um centro do Mossad, o serviço secreto externo israelense, que desempenhou papel ativo no ataque inicial.
Essa crise tem como ponto central a questão nuclear, mas é consequência direta da escalada gerada pelo ataque terrorista do Hamas a Israel em outubro de 2023. Desde então, Tel Aviv enfraqueceu aliados regionais do Irã, como o Hezbollah, e agora busca atingir diretamente a liderança do regime iraniano.