Após facilitar o cessar-fogo entre Israel e Hamas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, busca agora repetir essa conquista na guerra na Ucrânia. O ex-presidente tenta fortalecer sua imagem como um pacificador global, destacando-se como um influente articulador diplomático do século.
Porém, diferente da situação no Oriente Médio, o conflito europeu é mais complexo e delicado, envolvendo um Vladimir Putin inflexível, um Volodymyr Zelensky sob pressão, e uma crise nas relações entre os EUA e a Rússia.
Recentemente, o governo norte-americano indicou a possibilidade de enviar mísseis Tomahawk para a Ucrânia, o que, segundo o Kremlin, representaria uma escalada grave no conflito. O porta-voz russo Dmitry Peskov avisou que o armamento poderia aumentar o risco de confronto direto entre grandes potências, ressaltando que tais mísseis podem ser equipados com ogivas nucleares.
Essa tensão ocorre poucos meses após a cúpula no Alasca, onde Trump e Putin prometeram avançar nas negociações pela paz, que entretanto entrarão em uma pausa significativa.
Cenário europeu mais complicado
O especialista em direito internacional Pablo Sukiennik explicou que a ambição de Trump em mediar paz na Europa esbarra na complexidade do conflito e em diferenças fundamentais entre os combates no Oriente Médio e no Leste Europeu.
Ele destaca que, ao contrário da guerra entre Israel e Hamas, na qual países terceiros não se envolveram diretamente, o conflito russo-ucraniano tem forte participação da União Europeia, que apoia a Ucrânia, num embate com a Rússia que se recusa a ceder.
Trump inicialmente pressionou Kiev a atender algumas exigências de Moscou para alcançar um cessar-fogo, mas percebeu que o obstáculo maior é o próprio presidente russo, Putin.
Além disso, a história e a percepção da sociedade russa sobre as ações internacionais tornam qualquer acordo diplomático ainda mais difícil.
A avaliação geral é de muito tensão e poucas chances de um cessar-fogo a curto prazo.
Negociações paralisadas e desconfiança mútua
O Kremlin informou que as negociações entre Moscou e Washington não avançam desde a reunião de agosto entre Putin e Trump em Anchorage. Dmitry Peskov ressaltou que não houve progresso e que Kyiv mantém esperanças pouco realistas de vitória com apoio ocidental.
Enquanto isso, líderes europeus e o presidente ucraniano foram a Washington para tentar fortalecer a aliança contra Moscou, sem resultados práticos, mantendo um impasse: a Rússia exige reconhecimento da perda do Donbass e abandono dos planos da Ucrânia para ingressar na Otan, o que Kiev rejeita, defendendo a integridade do território e garantias de segurança.
Questões nucleares reacendem tensões
Outra fonte de atrito é o futuro do Tratado de Redução de Armas Estratégicas (New START), o último acordo de controle nuclear entre EUA e Rússia. Assinado em 2010, o pacto limita o número de ogivas nucleares estratégicas e prevê inspeções mútuas, funcionando como um importante freio à escalada armamentista.
Putin propôs uma prorrogação do tratado até 2026, mantendo os limites vigentes, mas Trump reagiu com cautela e não apresentou nenhuma ação concreta para retomar as negociações.
Moscou defende que outras potências, como China, França e Reino Unido, sejam incluídas nos futuros acordos, sob o argumento da multipolaridade mundial, enquanto Washington teme que isso dilua responsabilidades e dificulte as inspeções diretas.
Desafios e frustrações para Trump
O impasse na guerra da Ucrânia contrasta com o êxito recente de Trump no Oriente Médio, onde o cessar-fogo mediado entre Israel e Hamas envolveu a libertação de prisioneiros e reforçou sua imagem como um negociador diplomático. No entanto, a expectativa de receber o Prêmio Nobel da Paz foi frustrada, pois a honra foi concedida à líder venezuelana María Corina Machado.
Enquanto tenta equilibrar a postura pacífica e as realidades de uma superpotência em conflito frio com a Rússia, Donald Trump segue enfrentando uma situação diplomática complexa e cheia de desafios.