Igor Gielow
São Paulo, SP (FolhaPress) — Os Estados Unidos entraram no conflito entre Israel e Irã, nove dias após o início das investidas do Estado hebreu contra seu rival. De acordo com o presidente Donald Trump, bombardeiros americanos realizaram ataques a instalações do programa nuclear iraniano neste sábado (21) e retornaram em segurança.
“Concluímos com sucesso nosso ataque. Um conjunto completo de bombas atingiu o objetivo principal, Fordow”, declarou Trump na rede Truth Social. “Nenhuma outra força militar no mundo conseguiria isso. AGORA É TEMPO PARA A PAZ”, escreveu, destacando em letras maiúsculas.
Logo após, republicou uma mensagem dizendo: “Fordow já era”. Essa é a primeira ação significativa dos EUA contra seu maior adversário no Oriente Médio, que se tornou uma República Islâmica hostil desde 1979. Antes, ocorrências pontuais haviam marcado o confronto.
Trump também alertou que o Irã deve aceitar um acordo imediatamente, “ou sofrerá novos ataques”. Em pronunciamento posterior, afirmou que, se Teerã não aceitar os termos americanos, outros alvos serão atingidos com maior facilidade.
O Ministério da Defesa de Israel confirmou que coordenou a operação com os EUA, sem fornecer detalhes. Neste domingo (22), dia útil em Israel, somente serviços essenciais funcionarão, com escolas e órgãos públicos fechados.
O ataque foi alvo de especulação desde o meio da semana, quando Trump deixou claro seu afastamento dos ataques israelenses, inéditos em 46 anos de tensões com o Irã. O presidente americano chegou a ameaçar diretamente o aiatolá Ali Khamenei.
Na quinta-feira (19), afirmou que tomaria uma decisão em duas semanas. A pressão dentro dos EUA por parte de sua base política, contrária ao envolvimento em “guerras inúteis”, era intensa. Contudo, o prazo revelou-se apenas uma estratégia de distração.
As tentativas da França, Alemanha e Reino Unido de estabelecer diálogo com a diplomacia iraniana para abrir um canal com Trump foram descartadas. No sábado, o chanceler iraniano, Abbas Araghchi, afirmou em Istambul que a intervenção americana seria “perigosa para todos”.
Enquanto ele falava, bombardeiros invisíveis aos radares B-2, decolando da base de Whiteman, Missouri, já estavam no ar. Esses aviões são os únicos capazes de lançar a superbomba GBU-57, reconhecida por especialistas como eficaz para destruir bunkers subterrâneos do programa nuclear iraniano.
Embora o número de aeronaves envolvidas não seja confirmado, acredita-se que entre dois e seis B-2 tenham participado, cada um podendo transportar duas dessas poderosas bombas. Trump revelou à Fox News que seis bombas foram lançadas, marcando seu primeiro uso em combate.
Acompanhando os B-2, oito aviões de reabastecimento aéreo KC-135 auxiliaram a missão durante 11 horas até o alvo em Fordow, localizado em uma montanha subterrânea. O número total de aviões americanos na operação, incluindo aqueles que lhes deram cobertura, não foi divulgado. Bases militares americanas na região foram reforçadas e um grupo de porta-aviões está presente, garantindo apoio aéreo.
Relatos iniciais indicam que submarinos americanos lançaram mísseis Tomahawk contra alvos em Isfahan e Natanz, locais também atacados por Israel.
Ao longo da primeira semana da campanha aérea israelense, que tem sido retaliada por intensos ataques balísticos iranianos, as defesas do Irã foram grandemente enfraquecidas, facilitando o ataque americano. Israel, entretanto, não dispõe das bombas GBU-57 nem dos aviões B-2 para tal ofensiva.
Além de Fordow, considerada a “fortaleza” do programa nuclear por sua localização dezenas de metros abaixo do solo, Trump anunciou ataques aos bunkers restantes em Natanz e Isfahan.
A reação do Irã ainda é incerta. Apesar do tom desafiante de Teerã, pressionado pela ofensiva, o presidente americano tenta dar a situação como resolvida. Caso o conflito se intensifique, o Irã pode atacar forças navais americanas ou bases dos EUA na região, como a principal base aérea no Qatar.
O país persa também poderia ameaçar o comércio global de petróleo ao tentar bloquear o Estreito de Hormuz, passagem por onde transitam mais de 30% dos produtos petrolíferos da região, incluindo 90% do petróleo da Arábia Saudita, aliada dos EUA.
Empresas do setor já manifestaram preocupações sobre o impacto de eventuais ações iranianas, embora qualquer movimento nessa direção possa desencadear uma resposta militar americana mais intensa e potencialmente expandir o conflito.
Além disso, o comando militar dos rebeldes iemenitas, apoiados pelo Irã, declarou que retomará ataques contra navios americanos na região caso os ataques continuem. Os houthis mantêm uma trégua no mar Vermelho desde o mês passado, mas continuam disparando mísseis contra Israel.
O B-2, utilizado na operação, é a aeronave mais avançada já construída pelos EUA, que possuem 19 unidades. Pode transportar armas nucleares ou a potente GBU-57, uma bomba de 13,6 toneladas capaz de penetrar defesas subterrâneas a mais de 60 metros, causando destruição massiva.
Israel, que iniciou seus ataques há uma semana e está sob constantes mísseis e drones iranianos, busca eliminar completamente a capacidade do Irã de produzir uma bomba atômica, ao mesmo tempo derrubando sua liderança militar e sua defesa aérea de longo alcance.
Trump já havia posicionado um B-2 na base de Diego Garcia, no Oceano Índico, em abril, pressionando o Irã a negociar o abandono do programa nuclear em troca do fim das sanções. As negociações avançaram e os B-2 retornaram aos EUA recentemente.
Essas aeronaves participaram de operações contra rebeldes no Iêmen, sendo substituídas posteriormente por modelos B-52. Imagens de satélite mostram movimentação intensa na base, com aviões-tanque, de transporte e caças F/A-18.
Todos esses eventos são detalhes diante da crise grave em curso.