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segunda-feira, 08/12/2025

Trabalho por app reduz crime, mostra estudo do MIT

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Fernando Canzian
São Paulo, SP (FolhaPress)

O uso de plataformas de entrega tem sido importante para diminuir a criminalidade nas maiores cidades do estado de São Paulo, pois oferece uma forma de ganhar dinheiro para quem trabalha nesse setor.

De acordo com pesquisa feita pela economista Isadora Frankenthal, do MIT (Massachusetts Institute of Technology), a expansão do iFood no estado levou a uma queda de 10,4% nos crimes nas regiões onde o serviço começou a funcionar.

A redução foi maior em bairros mais pobres, mostrando que isso está ligado à inclusão econômica e à geração de empregos para pessoas com baixa qualificação, que costumam estar mais associadas a crimes por impulso, ou seja, sem planejamento.

Embora a diminuição geral nos crimes violentos tenha sido de 4,5%, essa queda foi muito maior nas áreas pobres, chegando a 26,7% menos crimes violentos.

Isso indica que jovens dessas regiões encontraram no trabalho por aplicativo uma oportunidade, reduzindo sua tendência a cometer crimes, seja onde moram ou em outras partes da cidade.

Frankenthal explica que normalmente as pessoas não se deslocam para longe para cometer esse tipo de crime.

As quedas na criminalidade são maiores nos horários em que o trabalho de entrega oferece melhor retorno financeiro, como durante o almoço e o jantar. Para crimes mais graves, os criminosos só evitam praticá-los quando o trabalho rende mais.

Para realizar a pesquisa, ela analisou dados de 118 municípios com mais de 50 mil habitantes no estado de São Paulo, entre 2010 e 2019.

Nesse período — que não inclui a pandemia —, o iFood dominava o mercado e estava presente nos municípios cujos dados de crimes foram avaliados, usando informações da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.

Segundo o estudo, a redução corresponde, em média, a 529 crimes a menos por município por ano. Os resultados abrangem crimes contra a propriedade, incluindo aqueles com uso de força ou armas, e o efeito dura até cinco anos após a chegada do serviço.

Antes do iFood chegar, os bairros pobres tinham 50% mais crimes por habitante do que os bairros ricos. O trabalho por aplicativo também ajuda a diminuir essa diferença na segurança entre regiões.

A maioria das pessoas que trabalham com entregas são homens jovens com baixa qualificação, um grupo que historicamente tem maior propensão a cometer roubos e furtos. Atualmente, Câmara e Prefeitura de São Paulo discutem regras para o serviço de mototáxi na capital, enfrentando disputas jurídicas. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) alerta para o risco de aumento de mortes no trânsito se esse tipo de transporte for liberado.

Esta pesquisa faz parte da tese de doutorado de Frankenthal, que planeja publicá-la em revistas especializadas. No MIT, ela investiga temas relacionados ao Brasil, especialmente na área de segurança pública, usando dados e estatísticas reais.

Frankenthal ressalta que os resultados não permitem concluir ainda como os criminosos que se disfarçam de entregadores afetam as ocorrências de crimes. Este fenômeno é mais comum em cidades maiores, como a capital paulista.

Luiz Guilherme Scorzafave, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Lepes (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social da FEA-RP/USP), elogia o trabalho de Frankenthal, chamando-o de “altíssima qualidade e muito bem feito”.

Ele destaca a importância da pesquisa em mostrar os horários e locais onde a criminalidade diminuiu, considerando os dados das plataformas e das ocorrências de crimes.

Geralmente, trabalhadores por aplicativos são informais ou Microempreendedores Individuais (MEI), trabalhando por conta própria com CNPJ. Em 2022, levantamento do economista Nelson Marconi, da Eaesp-FGV, mostrou que esses trabalhadores, especialmente na área de transporte, ganhavam mais do que quem tem carteira assinada.

O estudo compara o rendimento médio das profissões analisadas com dados do IBGE, mostrando que os trabalhadores por conta própria com CNPJ na área de transporte recebiam 1,22 vezes a média, enquanto os formais recebiam 0,88.

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